Fabricar açúcar para vender no mercado interno é mais lucrativo para as usinas neste momento do que produzir etanol para o mesmo destino, afirmou o diretor financeiro e de relações com investidores da Jalles Machado, Rodrigo Penna de Siqueira, durante teleconferência com investidores e analistas, realizada ontem, 24.
“Em alguns momentos de maio e do começo de junho, o etanol remunerou melhor do que o açúcar, tanto o VHP (bruto, que costuma ser exportado) quanto o do mercado interno. Houve períodos em que priorizamos o etanol, algo que não imaginávamos para esta safra”, disse. “Mas hoje o açúcar para mercado interno está remunerando mais do que o etanol, mesmo com o etanol em níveis altos”.
O executivo afirmou que a tendência para a companhia neste momento é manter o mix mais açucareiro.
Em relação ao açúcar orgânico, um dos principais produtos da Jalles Machado, Siqueira afirmou que os preços em dólar devem ficar estáveis nesta safra em comparação à anterior. “O orgânico tem precificação própria, com menor volatilidade. Já assinamos vários contratos, alguns ainda estão sendo negociados, e temos estabilidade de preço em relação ao ano passado”, pontua.
A oferta global de açúcar deve continuar justa nos próximos anos, o que favorece os preços do adoçante, de acordo com o executivo. “Temos notícias favoráveis sobre açúcar, e o etanol avançou mais do que esperávamos com o petróleo firme e a antecipação do aumento da mistura na Índia. Consultorias estimam pequeno déficit de açúcar nos próximos dois anos, então o balanço continua justo”, coloca.
Ele lembrou também que a exportação brasileira é mais competitiva do que a dos principais concorrentes: “Na Tailândia, para a exportação ser lucrativa, a libra-peso do açúcar precisa estar em 17 centavos de dólar; para a Índia, em 19. Então não tem de onde vir um excedente de açúcar para o mercado”.
Fusão e aquisição
A Jalles Machado pretende concluir algum processo de fusão ou aquisição (M&A, na sigla em inglês) até março do ano que vem, quando acaba a atual safra de cana-de-açúcar, afirmou Siqueira. “Desde o IPO temos trabalhado nisso. Temos grande cuidado para olhar os ativos, em que estado está a parte agrícola”, disse.
Entre os motivos para M&A listados pelo executivo estão a mitigação do risco climático e a diversificação da base da companhia. “Vamos para outra região”, garantiu. Hoje, as duas plantas da empresa estão em Goianésia (GO).
O executivo ainda afirmou já ter encontrado ativos de qualidade. “Estamos em discussão e avaliação, depois vamos para a execução. Para que o M&A tenha sucesso, temos que poder levar para uma nova unidade o padrão de operação e gestão que temos feito na Jalles Machado”, coloca.
O plano de expansão da empresa inclui o aumento em 2 milhões de toneladas da moagem de cana-de-açúcar com uma aquisição.
Investimentos
A Jalles Machado pretende usar parcela da receita obtida com o IPO dedicada a investimentos em plantas próprias da empresa, principalmente na unidade Otávio Lage (GO), afirmou Rodrigo Siqueira.
“Fizemos uma série de análises que já estão praticamente finalizadas. A maior parte do crescimento na moagem se dará em Otávio Lage e a menor parte na unidade Jalles Machado”, disse. “Esse cenário dá o maior retorno entre os que avaliamos”.
No prospecto para sua oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês), a Jalles Machado afirmou que pretendia usar “cerca de 43,75% dos recursos” para aumentar em um milhão de toneladas a moagem de cana-de-açúcar nas plantas que já pertencem à empresa. Siqueira estima que o aumento deve vir principalmente nas safras de 2023 e 2024.
Segundo o executivo, a companhia já contratou boa parte do crescimento de área agrícola: “A concorrência com grãos não é uma dificuldade para nós neste momento, já que a nossa região não é propícia para safra e safrinha. Como o grão é mais competitivo quando se faz safra e safrinha, temos menos problemas nessa disputa”.
Fonte: Agência Estado