O contrato futuro de açúcar com vencimento para maio/21 encerrou a semana cotado a 15.19 centavos de dólar por libra-peso na bolsa de NY, uma expressiva queda de 58 pontos na semana, equivalentes a 13 dólares por tonelada.
Os fundos não-indexados liquidaram 28,000 lotes, segundo os dados publicados pelo CFTC (Commodity Futures Trading Commission), agência independente do governo dos Estados Unidos, que regula os mercados de futuros e opções das commodities, que refletem a posição deles na última terça-feira. Pela diferença da cotação entre as duas terças, para simplificar o raciocínio, o mercado variou 123 pontos, isto é, cada ponto de queda demandou vendas de 228 contratos. Certamente a pressão do mercado foi intensificada com as vendas provocadas pelos robôs, algoritmos e outros afins. Não vejo porque os fundos deixariam de liquidar uma posição ainda exitosa financeiramente.
É bom lembrar que a Índia acelerou seus registros de exportação de açúcar (4.2 milhões de toneladas) aproveitando os preços altos verificados em NY há 30/45 dias. Os fundamentos do açúcar impedem que os preços se mantenham acima dos 16 centavos de dólar por libra-peso, como temos por várias vezes comentado nesse espaço. A menos que haja algum fator exógeno, o que não tem ocorrido até o momento.
Os preços atuais, considerando a desvalorização do real em quase 5% no acumulado da semana que passou (R$ 5,7584) colocam a safra 22/23 com preço médio nos meses que a compõem em quase R$ 1,900 por tonelada para as usinas brasileiras. Para a Índia, o preço de equilíbrio com o subsídio é de 14.75-15.00 centavos de dólar por libra-peso, abaixo do nível atual de NY. O mercado tem mais espaço para ir para os 14 centavos de dólar por libra-peso do que podíamos imaginar. Mas, o suporte pode ocorrer mais adiante.
É importante notar que a Índia é um país extremamente dependente de petróleo e gás natural, importando ao redor de 75% de sua necessidade. Juntamente com a China e o Irã, o país está entre os cinco cujo consumo nominal de petróleo mais se acelerou nos últimos anos. Em volume absoluto, o país é o 3º do mundo em consumo de energia primária (petróleo, gás natural, carvão, energias nuclear, hidrelétrica e renováveis) atrás apenas da China e dos EUA, mas cresce a uma taxa de 5.2% ao ano, acima dos dois primeiros. Além disso, o consumo de energia per capita na Índia cresce a uma taxa anual de 4.0%, enquanto a média mundial é de 0.4%. O país praticamente importa 10% de todo o petróleo negociado no mercado internacional.
Não é por outra razão que o a Índia deve aumentar a participação do etanol carburante na mistura com gasolina. Economizar dólares na importação de petróleo e compensar parte do subsídio que dá ao açúcar são os benefícios mais visíveis além da redução de emissão de CO2 e os efeitos na saúde pública. A questão é qual percentual e com que celeridade essa migração vai ocorrer. A Índia é um dos poucos países que, junto com a Indonésia e o Paquistão assistem a um aumento consistente do consumo per capita de açúcar aliado a um crescimento populacional robusto. Os três serão responsáveis por pelo menos 1/3 do aumento previsto no consumo mundial de açúcar para os próximos cinco anos que deve ser de 1.15% ao ano.
De maneira geral, o quadro fundamentalista no açúcar no curto prazo está enfraquecido. As economias minguando e as previsões de crescimento no Brasil, por exemplo, já colocam a expansão da frota de veículos leves e o consumo de combustíveis ciclo Otto na berlinda. O petróleo lá fora vai precisar de muito encalhamento de navio no canal de Suez para se sustentar acima dos 60 dólares por barril. Preços só melhoram com a ajuda de fatores extra fundamentos.
Não, isso não é um disco quebrado.
A elite dos empresários brasileiros, e muitos deles do agronegócio, começa a desembarcar do Titanic a caminho do iceberg em que se transformou o Brasil, tendo como comandante um tresloucado mitômano. Junto com ela, o Centrão, aquele velho e desgastado amontoado de partidos políticos cuja única ideologia é ficar perto do poder central (daí o nome) e assim perpetuar as vantagens e privilégios das quais se alimentam. Como disse um analista político, o Centrão pode até ir ao enterro, mas não se abraça a afogado. E o afogado em questão é o ocupante do Palácio do Planalto. Com popularidade em baixa acelerada e seguido cada vez mais por cada vez menos, com chances reais de ter como oponente o Al Capone brasileiro para as eleições de 2022, tanto a elite (aqui considerada na verdadeira acepção da palavra) brasileira, quanto o Congresso vão ter que encontrar uma terceira via para tentar afastar o Brasil de duas alternativas macabras: ter um fim horroroso ou um horror sem fim.
Arnaldo Luiz Corrêa
Fonte: Archer Consulting