O mercado futuro de açúcar em NY assistiu à entediante expiração do contrato com vencimento maio/21, nesta sexta-feira. A entrega física foi de 576,000 toneladas, com 99% de origem Brasil. Nenhuma surpresa. O contrato Julho/21, agora o mais negociado, encerrou a semana cotado a 17.06 centavos de dólar por libra-peso, 18 pontos acima do fechamento da semana passada, apreciando quase quatro dólares por tonelada, mas que devido à recuperação do real frente ao dólar (R$ 5,4370) fechou inalterado em reais por tonelada. As médias dos fechamentos dos contratos para a safra 22/23 e 23/24 fecharam em queda de R$ 10 por tonelada na semana.
A semana foi bastante movimentada e deixou os altistas sorridentes quando o mercado encostou nos 18 centavos de dólar por libra-peso. Mas, com a divulgação hoje do COT (Commitment Of Trades), relatório dos comitentes, percebe-se que os fundos adicionaram mais 30,000 lotes durante a semana (terça a terça). Ou seja, o mercado tem muito menos de fundamentos e muito mais de dinheiro novo entrando.
Na semana passada, usando o mesmo critério do CFTC (Commodity Futures Trading Commission), agência independente do governo dos Estados Unidos, que regula os mercados de futuros e opções das commodities, os fundos aumentaram a posição comprada em 50,300 lotes e elevaram o mercado quase 30 dólares por tonelada. Nesta semana, os fundos aumentaram a posição em 30,000 lotes e moveram o mercado quase 28 dólares por tonelada. Os fundos estão precisando cada vez menos lotes para mover o mercado US$ 1 por tonelada. O que isso quer dizer?
Obviamente que eles não estão encontrando novos vendedores porque – como todos sabem – as usinas estão no limite percentual de fixação de açúcar para esta safra que se inicia. Não sei até que ponto os modelos e os algoritmos percebem e/ou incorporam isso, mas de qualquer modo estão sendo ajudados pelo clima de apreensão por parte de usinas e tradings que não podem fechar os olhos a uma combinação explosiva que envolvem: um eventual atraso ou mesmo redução na disponibilidade de açúcar, um agravamento no fluxo de caixa devido às chamadas de margem e, por último, mas não menos importante, um default por parte de usinas com graves problemas financeiros.
Mas, calma. Não matem o mensageiro. Embora o quadro acima pode ser catastrófico não existe nesse momento perigo iminente. Temos que ficar de olho nos acontecimentos. Chama-nos à atenção que nesta semana a posição em aberto tanto das puts (opções de venda) quanto das calls (opções de compra) subiram 12,000 lotes, o que revela que os participantes do mercado parecem perceber que estamos num ponto de inflexão, ou seja, aquele ponto em que o mercado pode explodir ou derreter.
Há um consenso no mercado de que a safra de cana de açúcar no Centro-Sul está atrasada. O número publicado da UNICA assevera isso. O volume de cana moída na primeira quinzena é 30.57% menor do que o mesmo período do ano anterior, mas isso não quer dizer que a perda será nessa proporção. Algumas usinas admitem que estão empurrando a moagem com a barriga para dar mais tempo para que a cana amadureça. Não sei dizer se o atraso é de 30 dias como apontam um par de traders, mas de qualquer forma a situação encaixa uma narrativa altista, caindo como uma luva para os fundos.
De 2000 para cá, em apenas 7 vezes o preço médio do fechamento diário do contrato futuro de açúcar em NY no mês de abril encerrou acima do preço médio observado em março. Este ano foi um deles. Com a expiração do contrato maio/21, o preço médio apurado no mês foi de 16.25 centavos de dólar por libra-peso, 35 pontos acima da média do mês passado. Em quatro das seis últimas ocasiões em que isso se verificou (2000, 2004, 2009 e 2019), a média mais alta do ano ocorreu no último trimestre daquele ano. Em resumo, 2/3 de chances de o mercado fazer novas altas em outubro-novembro-dezembro. Será?
Ainda há razões para duvidar desse mercado pujante: a falta de atividade no mercado físico; o fato de que mesmo com atraso – disse-me o executivo de uma importante usina – a trading nem se importou com isso, o que mostra que não existe esse desespero por açúcar que o futuro pode querer causar; os spreads não refletem nenhuma agonia, para mencionar apenas alguns.
Aproveitar os bons preços em reais por tonelada para açúcares de exportação para a 22/23 e 23/24 continua sendo uma boa pedida. Sempre optamos por essa alternativa combinada com a compra de uma call (opção de compra) 200-250 pontos acima do mercado no momento da fixação.
Mesmo nos desastrosos, corruptos e infames governos petistas, ainda assim tínhamos ministros que tinham conhecimento das pastas que ocupavam. Paulo Guedes é de uma mediocridade de fazer dó com seus comentários nada pertinentes a respeito da China, maior parceiro comercial do Brasil e principal fornecedor de insumos para as vacinas, que não temos!
Há algumas semanas o sociólogo e cientista político Bolívar Lamounier escreveu um artigo irretocável no jornal O Estado de São Paulo observando que nunca tivemos uma situação no Brasil em que os três poderes da República fossem ocupados por pessoas tão medíocres e desqualificadas.
Os efeitos da CPI instalada nesta semana podem ser desastrosos ao país. Acreditar que o real vai continuar nesse mar de tranquilidade com tantos percalços ainda a serem transpostos até as eleições de 2022 é abusar da sorte. Especialmente sabendo do mau humor dos investidores em relação ao Brasil, ou mesmo de instituições estrangeiras que não podem emprestar dinheiro para países que – segundo elas – destroem seus biomas.
Arnaldo Luiz Corrêa
Fonte: Archer Consulting