O mercado futuro de açúcar em Nova York esforçou-se para registrar alta ao longo da semana, impulsionado pelas notícias oriundas dos eventos em Ribeirão Preto (Datagro) e Dubai. Contudo, ao concluir a sexta-feira, o contrato com vencimento para maio/24 fechou cotado a 21,18 centavos de dólar por libra-peso, marcando um incremento modesto de apenas 9 pontos em relação ao fechamento da semana anterior. A performance dos demais contratos mostrou-se praticamente estável, à exceção daqueles com vencimento após março/26, os quais registraram quedas entre 12 a 30 pontos, equivalendo a uma variação de 2.50 a 7 dólares por tonelada.
Durante a Conferência Anual de Açúcar em Dubai, uma enquete entre os participantes revelou algumas crenças peculiares sobre o futuro do mercado de açúcar. Segundo 37% dos presentes, o açúcar fechará o ano de 2024 balançando elegante entre 20 e 23 centavos de dólar por libra-peso. Já um otimista grupo de 47% aposta suas fichas em um adeus mais doce para 2024, prevendo preços entre 23 e 25 centavos.
Curiosamente, um esmagador consenso de 85% atribui ao clima o papel de grande maestro da orquestra de preços este ano, sugerindo talvez uma dança ao ritmo de chuvas e sóis. Apenas uma liga da justiça dos 3% acredita que os fundamentos têm alguma mão na direção dos preços, enquanto outro destemido trio de 3% imagina que só uma invasão surpresa de cisnes negros poderia virar esse jogo monótono. E por fim, na terra do nunca, 0% dos votantes acha que os desafios logísticos terão qualquer efeito nos preços – talvez porque todos esperam que o açúcar aprenda a teletransportar-se em breve.
Como já enfatizamos, e Dubai veio apenas confirmar, o clima desempenha um papel crucial na determinação dos rumos do mercado de açúcar. A enquete mencionada apenas ecoa esse consenso amplamente aceito. Claro, estamos sempre à mercê de eventuais cisnes negros capazes de sacudir o mercado de forma inesperada.
Contudo, se nos concentrarmos estritamente nos fundamentos, perceberemos que eles sugerem um mercado que, assumindo constância nas demais variáveis, tende a se estabilizar na faixa de 21 a 24 centavos de dólar por libra-peso — um cenário bem alinhado às expectativas dos participantes do mercado. Porém, o que fica evidente é que as commodities agem como uma fera selvagem, imprevisível e desafiadora em sua natureza, sempre pronta para surpreender até o mais experiente dos traders.
O cenário de preços do açúcar em Nova York está pendente de dois potenciais influenciadores: as caprichosas mudanças climáticas e a possível reentrada de fundos especulativos atuando como compradores. No entanto, como balde de água fria, o COT (Commitment Of Trades), relatório dos comitentes, publicado hoje pelo CFTC (Commodity Futures Trading Commission), agência independente do governo dos Estados Unidos, que regula os mercados de futuros e opções das commodities, com base na posição de terça-feira passada, indicava que os fundos estavam praticamente zerados, comprados em apenas 88 lotes!
Analisando o cenário mais amplo, especialmente as previsões de safra de cana no Centro-Sul para este ano, a evidência sugere uma suficiência na oferta de açúcar. Isso significa que, a menos que o clima decida jogar um jogo diferente ou que os fundos especulativos entrem com apetite de compra (por enquanto, apenas uma esperança) não estamos olhando para um cenário de escassez de açúcar no mercado.
A Archer Consulting liberou sua primeira previsão para a safra de cana 24/25, apontando para uma produção robusta de 605 milhões de toneladas de cana. Isso deverá resultar em uma produção de 41.7 milhões de toneladas de açúcar e 31.5 bilhões de litros de etanol, dos quais 7.3 bilhões são de etanol de milho. Por outro lado, o mercado de milho em Chicago está experienciando uma fase de custo e carrego, apresentando um desconto anual superior a 12%, o que indica uma oferta abundante ao ponto de "transbordar".
No cenário energético, a situação invertida sugere uma ausência de tensão iminente. Isso implica que, sob circunstâncias normais, o etanol de milho estará disponível em quantidades suficientes para atender à demanda interna, oferecendo às usinas maior liberdade para maximizar a produção de açúcar. Enquanto isso, a Organização Internacional do Açúcar (ISO) prevê um leve superávit no mercado global de açúcar este ano. A baixa nos mercados de grãos e energia indica que as commodities estão enfrentando uma pressão descendente.
E a pergunta que não quer calar: apenas imagine que a safra indiana seja melhor do que o mercado esperava. E que o mercado de energia se mantenha no marasmo em que se encontra. E ainda, que depois das eleições indianas em maio, a Índia decida que sobrou açúcar e que exportar um excedente de – digamos 500,000-1,000,000 de toneladas – não faria mal a ninguém. Isso seria um belo kaala hans, ou cisne negro, em hindi, que faria um estrago no mercado.... Apenas imagine.
E o que diz nosso analista Marcelo Moreira? O contrato maio/24 negociou na mínima da semana a 20.53 centavos de dólar por libra-peso. Apesar da recuperação no final da semana (21.15) o maio/24 está circunscrito às médias móveis dos 9/17/50/72/100/200 dias respectivamente a 21.50/21.90/ 22.00/22.20/23.50/23.90 centavos de dólar por libra-peso e suporte nos 20.10; atenção pois os fundos especuladores poderão voltar às compras procurando romper essas resistências e acionar stops!
Fonte: Archer Consulting