O dólar zerou a firme alta de mais cedo e passou a oscilar em torno da estabilidade nesta terça-feira, mas ainda com viés para cima, após o Banco Central realizar a maior oferta de liquidez em nove meses, conforme temores fiscais pressionavam o mercado de câmbio, chegando a deixar o real isolado como a única moeda relevante a perder valor nesta sessão.
Na máxima da sessão, alcançada por volta de 13h20, o dólar saltou 1,41%, para perto de 5,45 reais, e manteve-se próximo desse patamar até 14h11, quando o BC anunciou o primeiro leilão de swap cambial, com oferta de até 20 mil contratos (1 bilhão de dólares).
Nesse leilão, foram vendidos 14.300 contratos. O BC, então, anunciou às 14h57 a segunda operação do dia, disponibilizando os demais 5.700 contratos, que posteriormente foram colocados integralmente no mercado.
O BC não fazia oferta líquida de swaps cambiais tradicionais desde 11 de janeiro, quando leiloou 10 mil contratos (500 milhões de dólares).
O primeiro leilão de swap desta terça, com lote de 20 mil papéis, foi o maior desde 14 de maio do ano passado, quando o BC disponibilizou a mesma quantia de contratos, num período em que o mercado ainda tentava se estabilizar após o choque em março decorrente da pandemia.
Às 15:37, o dólar avançava 0,07%, a 5,3761 reais na venda. Na mínima da sessão, atingida logo após o anúncio do segundo leilão desta terça, a cotação desceu a 5,3546, queda de 0,33%.
O mercado vinha pressionando o dólar diante de temores fiscais, o que também explicou a tomada de fôlego da moeda na véspera, quando o presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), disse que não se pode vincular um novo auxílio emergencial a PECs que poderiam compensar aumento de gastos.
Agentes financeiros têm refeito cálculos com a possibilidade de volta do auxílio, mas nos novos cenários considera a aprovação de medidas que compensem o impacto fiscal. Entre as mais citadas está a PEC Emergencial, que estabelece gatilhos para corte de despesas públicas.
Falando sobre a política de reajuste de preços da Petrobras, o presidente Jair Bolsonaro disse na véspera que, conforme conversas com o presidente da Petrobras, o ideal seria o dólar baixar.
"Avalio que a depreciação cambial recente tinha fundamento, pois decorreu principalmente da pior percepção fiscal, amplificada pelo juro real muito fora do lugar. Assim, vender dólares nesse cenário contém um pouco a piora da moeda, mas vai ser ineficaz se o quadro fiscal piorar", disse Sergio Goldenstein, consultor independente e estrategista na Omninvest Independent Insights e ex-chefe do Departamento de Operações de Mercado Aberto do Banco Central.
O IPCA de janeiro, que veio menor que o esperado, também ajudou a estimular compras de dólar, uma vez que contribuía para apostas de que o Copom possa não subir os juros no curto prazo.
Em evento virtual nesta terça, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, disse entender a ansiedade do mercado com dados recentes de inflação, mas frisou que a política monetária precisa mirar o longo prazo e que muitos componentes da inflação são temporários.
Campos Neto voltou a alertar contra a adoção, pelo governo, de medidas de estímulo à atividade que gerem aumento líquido de despesas, ressaltando que um movimento nesse sentido poderia ter implicações para a política monetária.
Fonte: Reuters