A tendência de alta nos preços dos combustíveis parece não ter fim. Na média dos postos brasileiros, tanto o etanol quanto a gasolina representaram crescimento nos custos para o consumidor.
Em meio aos aumentos, o presidente da Petrobras, Joaquim Silva e Luna, disse nesta terça-feira que nem todas as mudanças nos preços dos combustíveis estão necessariamente ligadas à petroleira, reafirmando que a parte do preço da gasolina que cabe à estatal é de aproximadamente R$ 2. Ele também afirmou que a empresa não repassa toda a “volatilidade momentânea” do preço internacional do petróleo para os produtos.
Do outro lado, os estados acusaram a Petrobras de “propaganda enganosa” e entraram com uma ação civil pública para que a companhia removesse do ar sua propaganda em que diz não ter culpa pelos recentes aumentos dos preços dos combustíveis. Para os estados, a mensagem é uma “publicidade abusiva e que viola os princípios da transparência, confiança e boa-fé”.
Entre os dias 5 e 11 de setembro, o valor da gasolina teve um incremento de 0,87% nos postos, saindo de R$ 6,007 por litro para R$ 6,059/L, em média. O etanol, por sua vez, teve um acréscimo de 0,91%. Na média nacional, o preço passou de R$ 4,611/L para R$ 4,653/L entre as últimas duas semanas.
Os valores correspondem ao levantamento semanal realizado pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
No período analisado, o renovável custou o equivalente a 76,8% do preço de seu correspondente fóssil; mesmo índice do anterior.
Com isso, o etanol segue distante do limite comercialmente estabelecido de 70% do custo da gasolina, faixa em que é considerado vantajoso para os consumidores. Além disso, esta é a pior relação para o produto desde o intervalo de 13 a 19 de junho, quando o índice era de 77,5%.
Nas usinas, também houve aumentos. Nas unidades paulistas, o acréscimo no preço do hidratado foi de 0,37%, passando de R$ 3,2245/L para R$ 3,2365/L. Enquanto isso, nas produtoras mato-grossenses, o incremento foi de 0,34% e nas goianas, de 0,16%. Os dados são do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq-USP.
É importante reiterar que as comparações de valores nos postos não são exatamente precisas, já que o levantamento dos preços de combustíveis ainda não está sendo realizado em todas as cidades brasileiras.
Na semana analisada, foram levantados os dados de postos de 343 municípios, mesma quantidade do que na anterior. Desta forma, a comparação semanal segue comprometida, uma vez que ainda que o número de localidades pesquisadas tenha permanecido, as cidades que entraram no levantamento mudaram.
Variações nos estados
Segundo a ANP, de 5 e 11 de setembro, os preços do etanol nos postos subiram na média de 21 estados e no Distrito Federal, caíram em quatro e se mantiveram no Amapá. A gasolina, por sua vez, teve aumento em 24 unidades da federação.
Em São Paulo, o maior estado produtor e consumidor de etanol do país, o biocombustível teve um aumento de 1%, custando R$ 4,434/L na média semanal – ainda assim, este é o valor estadual médio mais baixo dentre todas as unidades da federação. Já a gasolina foi vendida a R$ 5,715/L, passando por crescimento de 0,6%.
A maior taxa de elevação para o renovável no comparativo com o fóssil ocasionou uma piora na relação entre os preços, que ficou em 77,6%, ante os 77,3% do período anterior. Com isso, o índice fica ainda mais distante da marca de 70%, limite da faixa em que o etanol é considerado economicamente favorável ao consumidor. A pesquisa foi feita em 101 cidades, duas a menos do que na semana anterior.
Já em Goiás, o etanol foi adquirido a R$ 4,726/L na média da semana analisada. No período, houve um incremento de 0,06% no preço do biocombustível. Já a gasolina sofreu um incremento de 0,25%, sendo vendida a R$ 6,363/L.
Desta forma, a relação entre os preços do renovável e o do fóssil ficou em 74,3% no estado, pouco abaixo dos 74,4% de uma semana antes; ainda que o etanol não seja considerado competitivo, esta foi a relação mais favorável ao biocombustível em todo o país. Segundo a ANP, 12 cidades foram consideradas no levantamento, duas a mais do que no período anterior.
Por sua vez, Minas Gerais teve um aumento de 1,5% no preço médio do etanol, que foi comercializado por R$ 4,739/L, o maior valor dentre os seis estados que mais produzem. A gasolina também passou por um crescimento, de 1,11%, e foi negociada a R$ 6,304/L, em média.
Com isso, o renovável custou o equivalente a 75,2% do preço do combustível fóssil, índice superior ao da semana anterior, quando era de 74,9%. No total, 43 municípios mineiros participaram da pesquisa, uma a mais do que na semana anterior.
Em Mato Grosso, o etanol teve um aumento de 0,02% e foi vendido a R$ 4,553/L. Já a gasolina teve um incremento de 0,48%, passando a custar R$ 6,129/L. Desta forma, a relação entre os preços foi de 74,3%, uma redução ante os 74,6% da semana anterior. A ANP fez a pesquisa em sete municípios mato-grossenses, mantendo a quantia do período anterior.
Em Mato Grosso do Sul, o valor do etanol cresceu 0,75%, para R$ 4,721/L. A gasolina, por sua vez, teve aumento de 0,2%, ficando em R$ 5,971/L. Assim, o biocombustível passou a custar o equivalente a 79,1% do preço de seu concorrente fóssil, acima dos 78,6% de uma semana antes. Somente Campo Grande, Corumbá, Dourados e Três Lagoas participaram do levantamento.
Por fim, o Paraná segue apresentando a mais alta relação dentre os seis principais estados produtores de etanol do país, com o produto custando o equivalente a 81,5% do preço da gasolina; o valor representa uma manutenção semanal do índice.
No período, o renovável teve um incremento de 0,66%, sendo vendido por R$ 4,709/L na média estadual. Já a gasolina teve um aumento de 0,61%, ficando em R$ 5,775/L. No total, 21 cidades foram pesquisadas no estado, mesma quantia do que uma semana antes.
Os preços do etanol e da gasolina por região, estado ou cidade desde 2018 estão disponíveis na planilha interativa (exclusiva para assinantes). Também estão disponíveis gráficos avançados e filtros interativos sobre o comportamento dos preços.
Comparação comprometida
Após mais de dois meses em pausa, o levantamento de preços nos postos voltou a ser realizado semanalmente no final de outubro de 2020. Ainda assim, as comparações entre as análises não são precisas, já que o número de municípios pesquisados vem mudando semanalmente, conforme já era previsto pela ANP.
Entre 5 e 11 setembro, 343 cidades foram pesquisadas, mesma quantidade do no período anterior. O levantamento inclui todas as capitais dos estados brasileiros. Algumas localidades deixaram de participar no comparativo semanal, mudando o número de municípios de alguns estados.
Apesar da progressão no número de cidades, o total está abaixo do objetivo divulgado pela ANP: 459. A agência vem demonstrando dificuldades em cumprir com o esperado em relação ao levantamento desde a pausa, quando tinha uma expectativa de data de retomada que não foi atingida e atrasou mais de um mês.
Com este retorno gradual, os números seguem não correspondendo à média dos postos dos estados como ocorria antes da pausa. A comparação semanal também deve ser observada com cautela, já que a amostra pode aumentar ou diminuir semanalmente.
Fonte: NovaCana