Commodities dominam exportações até em São Paulo

Notícias do Mercado

Notícias do Mercado

Commodities dominam exportações até em São Paulo

12/01/2022

Compartilhe:

As commodities estão conquistando uma parcela cada vez maior das exportações em todo o país. Em todas as regiões, os produtos ligados ao agronegócio ou às indústrias extrativas fecharam o ano dominando as vendas externas. A soja é campeã dos embarques em dez estados, o petróleo bruto ou derivados lidera em três unidades federativas e o minério de ferro é hoje o principal produto exportado em outras três.



Segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), a participação da indústria de transformação nas exportações brasileiras caiu para 51,3% em 2021 ante 63% em 2010. Essa categoria abrange também produtos do agronegócio que passam por algum tipo de processamento industrial, como carne, polpa e açúcar refinado.



Até São Paulo, o estado mais industrializado do Brasil, tem sua pauta de exportação liderada por commodities. Açúcar (US $ 5,6 bilhões no ano passado) e petróleo bruto (US $ 4,3 bilhões) -- cuja produção disparou nos últimos anos por causa do pré-sal -- são os dois produtos mais vendidos no exterior. As aeronaves da Embraer, o primeiro item exclusivamente da indústria, ficaram em terceiro lugar e contribuíram com US $ 2,3 bilhões.



No Paraná, os veículos de passeio -- que lideram entre os manufaturados fora do agronegócio ou da indústria extrativa -- são apenas o oitavo produto mais exportado. Também na oitava posição estão os calçados gaúchos. Ambos os estados tiveram a soja como produto de destaque em 2021.



Para o economista Paulo Gala, professor da Escola de Economia da Fundação Getulio Vargas, o fato de o mapa brasileiro agora ser dominado por commodities permite duas reflexões. Primeiro: nenhum estado consegue ter uma agenda de exportações suficientemente sofisticada para ter produtos altamente tecnológicos -- em vez de grãos, petróleo ou minerais -- como campeões de vendas. Segundo: a indústria brasileira está predominantemente voltada para o mercado interno e ainda carece de maior competitividade global.



Segundo ele, apenas algumas microrregiões do país -- no entorno de cidades como Campinas, Piracicaba (ambas em São Paulo), Caxias do Sul (no Rio Grande do Sul) e Betim (em Minas Gerais) -- conseguiram se transformar em "ilhas "De inovação e produtividade, com indústrias líderes. Não é à toa, acrescenta, que estão entre os municípios com maior renda per capita.



"Apenas alguns centros têm indústrias sofisticadas voltadas para a exportação que impulsionam a economia local, mas esses centros não chegam a dominar um estado inteiro", disse Gala. "O que traz emprego, renda e redução da desigualdade é a produção de bens complexos. Eles exigem pesquisa e desenvolvimento, tecnologia, patentes. Embraer, WEG e Marcopolo são contraexemplos da nossa incapacidade de inserção comercial no mundo ", disse.



Segundo o professor, nem mesmo o real enfraquecido desde o início de 2020 tem sido suficiente para evitar a perda de espaço da indústria nas exportações, em relação ao agronegócio e à extração mineral. "O real enfraquecido ajuda a competitividade de preços, não a competitividade de qualidade. A taxa de câmbio real está no menor nível dos últimos 20 anos, mas precisamos de uma política de ciência e tecnologia muito mais pesada e de estímulo industrial ", disse.



O domínio das commodities se intensificou, disse José Augusto de Castro, chefe da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). Ele estima o déficit em produtos manufaturados em US $ 70 bilhões a US $ 80 bilhões. Na segunda-feira, a Secex divulgou um saldo recorde de US $ 61 bilhões na balança comercial no ano passado -- obviamente contando todos os tipos de produtos, não apenas os relacionados à indústria.



Para ele, o Brasil hoje é excessivamente dependente de três produtos (soja, petróleo e minério de ferro), que representam cerca de 40% do total dos embarques, e de um único mercado (China) que compra 32% das nossas exportações.



"Na década de 1980, as pessoas reclamavam muito da dependência dos Estados Unidos, mas o mercado americano absorvia cerca de 25% das exportações brasileiras e havia mais diversificação de produtos. Naquela época, oito dos dez principais itens de exportação eram produtos manufaturados. Agora, os 15 principais são commodities ".



Em ordem decrescente, os 15 principais produtos vendidos pelo Brasil no ano passado foram: minério de ferro, soja, petróleo bruto, açúcar refinado, carne bovina, farelo de soja, óleos combustíveis, carne de frango, polpa, produtos semiacabados ou lingotes de ferro e aço, café, ouro, milho, algodão e cobre.



Portanto, Castro vincula os recentes superávits da balança comercial ao ambiente favorável de preços, e não ao apoio a políticas públicas. "O custo Brasil ainda é muito alto e o governo acabou com o Reintegra [programa que reembolsa as empresas por parte dos impostos pagos ao longo da cadeia produtiva], além de ter reduzido os recursos para o financiamento das exportações, no Proex."


Miquéias Santos

Fonte: O Petróleo

MAIS

Notíciais Relacionadas