Os recordes de exportação de açúcar que o Brasil bateu no ano passado - e elevaram para 50% sua participação no mercado global, segundo agentes do mercado - poderão ser superados neste ano, segundo as projeções da Copersucar, maior comercializadora de açúcar e etanol do país. A empresa faturou R$ 30 bilhões na última safra (2019/20) e vai se transformar na maior trading de açúcar do mundo caso conclua a compra da participação da americana Cargill na joint venture Alvean.
"É claro que vai depender da atividade econômica no mundo e da demanda. Mas, se o Brasil tiver uma safra com produção de açúcar maximizada e tivermos retomada da atividade e do consumo globais, existe, sim, essa possibilidade", disse João Teixeira, presidente da Copersucar, em entrevista ao Valor.
E a companhia está com a faca e o queijo na mão para aproveitar da melhor forma essa possibilidade. O executivo não comentou os planos da companhia para a Alvean, já que as negociações com a Cargill ainda estão em curso. Na safra passada (2019/20), a trading comercializou mais de 10 milhões de toneladas de açúcar, o que representou na ocasião 32% das exportações brasileiras. Sua participação nos embarques globais, segundo estimativas de mercado, está perto dos 15%.
Se confirmado, o avanço da Copersucar na comercialização da commodity ocorrerá na contramão do movimento de outras tradings estrangeiras, que nos últimos anos saíram do negócio após anos de margens apertadas. Em geral, a companhia opera em sociedade com outras empresas, embora ela também atue sozinha, por exemplo, na trading de etanol e gás natural que possui nos Estados Unidos, a Eco-Energy.
O segredo para a resiliência da Alvean nos últimos anos tem sido a escala. A trading tem sete escritórios ao redor do planeta, além da sede, em Genebra. Quatro escritórios estão na Ásia, região que lidera o aumento da demanda global por açúcar e representa mais de 40% do consumo no mundo, segundo a Organização Internacional do Açúcar (ISO, na sigla em inglês). A Alvean também origina açúcar no continente, que representa pouco menos de 40% da produção mundial.
O Brasil, porém, deve continuar como a força exportadora vista desde o ano passado. Um sinal é o fato de que a maior parte dos embarques da próxima safra (2021/22) já estarem com preços fixados, e em patamares elevados. As operações ocorreram em boa hora, já que, na visão do executivo, é "improvável" uma alta "muito maior" dos preços, mesmo num cenário de déficit global de oferta, que a Copersucar avalia em 4 milhões de toneladas.
E, embora alguns analistas prevejam potencial de quebra na colheita de cana após a seca do ano passado, Teixeira avalia que perdas de produtividade devem ser compensadas pela expansão da área. "Vai ter quebra em algumas específicas, mas será compensadas por outras", disse.
A Copersucar ainda não tem fechados os dados de moagem de suas associadas na safra atual (que terminará em março), mas em 2019/20 o processamento das cooperadas alcançou 87,7 milhões de toneladas, 15% do total da região Centro-Sul.
Segundo Teixeira, o terminal da companhia no porto de Santos ainda tem capacidade de absorver o aumento da demanda por exportação. O Terminal Açucareiro da Copersucar (TAC) tem capacidade estática para 8,5 milhões de toneladas. A companhia também vê espaço para maior movimentação de grãos. Para o "médio prazo", o executivo diz que podem ser necessários investimentos na estrutura logística do interior para o escamento de açúcar, mas para o curto prazo ele ainda não vê necessidade.
Para o mercado de etanol, a Copersucar acredita em um aumento da demanda caso se confirme a recuperação da atividade econômica, o que abre espaço para que o etanol e o açúcar "compitam pelo ATR" - sacarose extraída da cana. A perspectiva contrasta com o cenário de 2020, quando o açúcar ofereceu nítida vantagem financeira em relação ao etanol.
Teixeira também não descarta a possibilidade de "oportunidades de importação" de etanol, a depender do ritmo de avanço da economia e do consumo de combustíveis do ciclo Otto, que costuma reagir de forma mais intensa que o PIB, ressalta. A companhia espera ainda um aumento dos preços do etanol conforme o último reajuste da Petrobras sobre a gasolina A começar a ser repassada aos postos.
Mesmo nos EUA, país em que os produtores de etanol sofreram mais com a queda do consumo e onde a Copersucar atua na comercialização, o mercado está se normalizando. Após as quedas de 30% nas vendas de etanol no início da pandemia, as vendas estão se recuperando.
A Copersucar está otimista com o governo de Joe Biden nos EUA e o controle do partido Democrata no Congresso americano. "Nos próximos quatro anos, provavelmente haverá regras que estimulem a demanda por energias renováveis, e o famoso E15 [15% de mistura de etanol na gasolina] pode sair do papel e entrar na prática".
Fonte: Valor Econômico