O saldo global de açúcar na temporada 2021/22 (outubro a setembro) deve alcançar um déficit de 1,9 milhão de toneladas – acréscimo de 1,1 milhão de toneladas ante o rombo de 3 milhões de toneladas em 2020/21, segundo nova visão divulgada na manhã desta quarta-feira, 19, pela StoneX. Ainda assim, o valor negativo é maior que as 1,8 milhão de toneladas da estimativa anterior.
Embora a produção global do adoçante possa acumular aumento anual de 1,5% na temporada 2021/22, para 186,5 milhões de toneladas, a consultoria espera uma redução de 139 mil toneladas em relação à publicação de novembro do ano passado devido à menor produção chinesa.
“A ocorrência de geadas em Guangxi, importante região produtora de açúcar, e a maior troca de área por culturas mais competitivas, pressionaram as perspectivas para a oferta do país”, explicam as analistas de inteligência de mercado da StoneX, Marina Malzoni e Rafaela Souza.
O clima mais frio em 45 anos resultou no congelamento de lavouras de beterraba, ao mesmo tempo em que precipitações excessivas na província têm diminuído o acúmulo de açucares no colmo dos canaviais, condição que levou a consultoria a reduzir em 300 mil toneladas sua estimativa para a produção chinesa, projetada para 10 milhões de toneladas de açúcar branco (redução de 6,3% no comparativo safra-a-safra).
Pelo lado do consumo, a StoneX acrescenta que a tendência é de que as importações pela China continuem firmes ao longo da temporada 2021/22 – diante da menor produção doméstica e procura aquecida.
Atualmente, ainda conforme a consultoria, o preço do açúcar brasileiro colocado no mercado chinês está US$ 120 por tonelada mais atrativo, considerando tarifas de 15% – sinalizando que pode haver maior estímulo ao apetite de compra do país asiático. Até o fim da temporada, a StoneX espera que entre 4,5 e 5,5 milhões de toneladas sejam importadas pela China.
As analistas destacam que a desvalorização dos fretes marítimos tende a estimular o avanço da procura por açúcar, principalmente em polos de refino. Sob a ótica da demanda, a StoneX manteve sua expectativa de que o consumo global apresente crescimento anual de 0,9%, atingindo 188,4 milhões de toneladas.
Produção brasileira
Direcionando as atenções para o Centro-Sul brasileiro, a safra 2021/22 (de abril a março) deve encerrar com uma produção de açúcar próxima de 32,2 milhões de toneladas, posicionando-se 16,4% abaixo do registrado no ciclo anterior. No entanto, as analistas da StoneX ressaltam que o regime de chuvas favorável sobre importantes regiões canavieiras têm contribuído com melhores perspectivas acerca da produtividade dos canaviais que serão colhidos entre abril deste ano e março do ano que vem.
A consultoria estima que o rendimento médio dos canaviais apresente uma recuperação anual de 7,3%, para 73,5 toneladas por hectare. Considerando uma moagem de 565,3 milhões de toneladas e o mix açucareiro de 45,5%, cerca de 34,5 milhões de toneladas de açúcar devem ser produzidas pelo Centro-Sul ao longo de 2022/23. Consequentemente, a consultoria espera que cerca de 31,4 milhões de toneladas de açúcar (tel quel) sejam ofertadas pela região no ciclo internacional de 2021/22 (de outubro a setembro) – volume que deve representar uma queda anual de 11,8%.
No caso do Norte-Nordeste, as chuvas dos últimos meses foram positivas para o desenvolvimento dos canaviais na média ponderada da região, o que pode pressionar a qualidade média das lavouras. Como 970,1 mm incidiram sobre as áreas canavieiras no acumulado de 2021, de acordo com a consultoria, o volume supera a normalidade em 7,1%. Consequentemente, a StoneX projetou uma produção de 3 milhões de toneladas (tel quel) para a região entre outubro de 2021 e setembro de 2022 (-0,4%).
Clima indiano
Voltando a atenção às condições climáticas, as precipitações regulares dos últimos meses na Índia favoreceram o desenvolvimento dos canaviais, mas já trazem preocupações acerca do andamento da colheita, conforme a StoneX.
No acumulado de 2022, 9,2 milímetros incidiram sobre Maharashtra, alta em relação à média de 6,4 mm, enquanto apenas 0,3 mm foram registrados em Karnataka (-1,5 mm). Em Uttar Pradesh, por sua vez, 30,4 mm (+24,7 mm) foram registrados no período.
A umidade vem se mostrando excessiva em parte dos talhões, sobretudo daqueles situados em Uttar Pradesh, o que será um ponto de atenção nos próximos meses. “As perspectivas produtivas seguem positivas para o território indiano, o que nos levou a manter a nossa expectativa de que o país produza 31,5 milhões de toneladas de açúcar (valor branco) na safra 2021/22 (de outubro a setembro) – volume que já desconsidera o direcionamento de 3 milhões de toneladas para a destilação de etanol”, disseram Malzoni e Souza.
As chuvas regulares devem contribuir com a produtividade das lavouras a serem processadas ao final do ciclo corrente e para o desenvolvimento das áreas recém-plantadas, sendo um dos primeiros indicativos positivos em relação à safra 2022/23 – ainda que o avanço do etanol possa pesar sobre o excedente exportável de açúcar indiano, segundo a consultoria.
Tailândia, Europa e Austrália
As condições climáticas sobre a Tailândia também vêm corroborando as perspectivas para a produção de açúcar no país, com o início da temporada registrando avanço da moagem em relação ao ano anterior. A StoneX manteve sua estimativa de 10,7 milhões de toneladas de açúcar a serem ofertadas no ciclo corrente, volume que representa alta anual de 41,7%. Além disso, cerca de 7,1 a 7,5 milhões de toneladas devem ser direcionadas ao exterior.
No continente europeu, poucas novidades foram divulgadas no campo da oferta de açúcar. De modo geral, a StoneX relata que o clima se mostrou benéfico à produtividade das lavouras de beterraba, fazendo com que a Comissão Europeia projete um rendimento médio de 75,4 t/ha no bloco, uma alta de 2,4% em relação à média de cinco anos.
Ainda que as perspectivas se mostrem positivas para o avanço do consumo doméstico de etanol, a produção do biocombustível deve partir, sobretudo, de matérias-primas alternativas, como os grãos e resíduos. No caso do açúcar, a StoneX espera que cerca de 600 mil toneladas sejam desviadas para a destilação no ciclo 2021/22 – volume em linha com o registrado na temporada passada.
Por isso, a consultoria manteve sua projeção de que a produção no bloco totalize 17,2 milhões de toneladas (valor branco), volume que já considera a oferta do Reino Unido e que representa alta de 11,9% no comparativo safra-a-safra.
Na Austrália, por sua vez, a umidade excessiva sobre Queensland, principal região canavieira do país, recebeu as atenções nos últimos meses. Em meio às chuvas abundantes, a colheita de 2021 encerrou próxima de 30,1 milhões de toneladas, volume que representa uma queda anual de 1 milhão de toneladas.
A StoneX pontua que a maior umidade também pressionou a taxa de extração de açúcar dos canaviais ao longo da temporada. Por outro lado, essa conjuntura pode se mostrar benéfica ao rendimento médio da matéria-prima que será processada em 2022. Considerando esses fatores, a consultoria manteve sua perspectiva de que a oferta da commodity pela Austrália fique próxima de 4,3 milhões de toneladas em 2021/22 (de outubro a setembro), uma queda safra-a-safra de 1,1%.
Fonte: StoneX