No ano passado, a bolsa de valores bateu o recorde no valor de IPOs (ofertas públicas iniciais, em português). Neste ano, ao menos 26 empresas já estão na fila de análise da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) para o IPO, mas aumento da taxa de juros e as eleições podem dificultar os IPOs e fazer com que algumas companhias desistam de abrir capital neste ano.
“A resposta mais simples é que não acho que seja um ano promissor para IPO. Temos alta de juros aqui dentro e lá fora, além da incerteza relacionada a eleição”, afirma Danielle Lopes, sócia da Nord Research.
No ano passado, 46 empresas fizeram IPOs, atingindo um recorde em valor movimentado. No entanto, a XP afirma que o desempenho das empresas foi fraco.
“Na média, 3 meses após o início das negociações, as ações caíram -4,2%, e 6 meses depois elas registraram uma queda de -9,6%. E no total, as empresas que se tornaram públicas em 2021 tiveram um desempenho médio de -26,1% no ano”, afirma relatório da XP.
Qual é a perspectiva para os IPOs neste momento? Lopes explica que em momentos de maior tensão, os investidores tendem a buscar alternativas de investimento menos voláteis. Se a renda variável já se torna menos atrativa em cenários de juros mais altos, a situação é ainda mais complicada para empresas que estão fazendo o IPO.
“O investidor está olhando para uma empresa nova, com pouca informação disponível, em comparação a companhias que têm capital aberto há anos, o que pode diminuir o interesse do investidor”, afirma Lopes.
Todas as companhias que são listadas em bolsa tem uma série de obrigações, sendo uma delas a divulgação de balanços de resultados. Empresas que estão há mais anos na bolsa têm mais informações disponíveis ao investidor, um dos parâmetros que os analistas consideram importante na hora de alocar dinheiro naquela empresa.
Quais são as dificuldades que as postulantes vão encarar? João Daronco, analista da Suno Research, diz 2022 deve ser um ano difícil para IPOs, considerando o cenário que se desenha neste início de ano.
“Acho que 2022 vai ser bastante difícil para os IPOs, porque existe uma correlação inversa em relação a volatilidade aos IPOs bem-sucedidos. Quanto maior a volatilidade do mercado, menor a quantidade de IPOs que saem. Em anos de eleição, geralmente temos uma maior aversão a risco”, afirma Daronco.
Para Daronco, o aumento da taxa de juros, que pode chegar a 11,75% ao ano em 2022, o cenário fica ainda mais complexo para empresas menores abrirem capital, o que pode motivar mais interrupções ou cancelamentos de IPOs.
O que é importante para a empresa se dar bem? O IPO precisa acontecer em uma janela de oportunidade, com diz Lopes. Ou seja, um período que seja mais otimista tanto para a economia no geral como para o setor que a empresa está inserida.
“Normalmente, o IPO vem com um preço mais alto na ação. Para ter uma boa demanda, o mercado precisa estar mais otimista, o que não estamos vendo agora”, afirma Lopes.
Há chances de IPOs serem cancelados? Sim, assim como aconteceu com a provedora de internet Vero e com a Claranet, que preferiram cancelar, outras empresas podem seguir o mesmo caminho. A Vero estava na fila desde agosto do ano passado, mas anunciou no início de janeiro que desistiu do IPO por entender que o mercado não está favorável. Já a Claranet não informou o motivo da desistência.
Quando a empresa decide adiar, faz um pedido à CVM, que analisa a situação. A CVM pode aceitar o adiamento ou pedir o cancelamento do IPO.
Caso decida adiar, ainda precisa continuar cumprindo algumas obrigações perante à CVM. Como o processo do IPO é trabalhoso, algumas preferem cancelar e começar do zero em um momento mais oportuno. Em 2021, 61 empresas desistiram de realizar ofertas primárias de ações, de acordo com a XP.
Fonte: 6 Minutos/ UOL