A inflação de outubro veio mais alta que o esperado pelo mercado. O IPCA subiu 1,25%, o maior resultado para esse mês desde 2002. Em 12 meses, o indicador acumula uma alta 10,67%, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
A disparada da inflação, puxada pelo aumento dos preços dos combustíveis e da energia elétrica, já alterou as projeções para o IPCA de 2021. A FGV (Fundação Getúlio Vargas), elevou sua estimativa de 9,5% para 10%. O Bank of America aumentou sua projeção de 9,1% para 10,1%. A LCA também prevê um IPCA de 10%, ante projeção anterior de 9,7%. A XP informa que sua projeção, que é de 9,5%, “está em revisão com viés de alta”.
Para o mercado, a inflação mais alta e persistente deve pressionar o Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) a fazer ajustes mais fortes na taxa de juros. Na última reunião, o Copom elevou a Selic em 1,5 ponto, para 7,75% ao ano, e avisou que deve fazer um novo ajuste da mesma magnitude em dezembro.
“Minha avaliação é que o BC está cada vez mais atrás da curva. Apesar do aumento dos juros, a inflação continua a acelerar. Eles estão tentando correr, mas na minha avaliação ainda estão muito lentos”, afirma José Márcio Camargo, economista-chefe da Genial Investimentos.
Para André Perfeito, economista-chefe da Necton, o IPCA de outubro mantém pressão por altas mais fortes na Selic. “Mas trabalhamos com a hipótese que o BC mantenha o atual ritmo de ajuste.”
Inflação de 2022
A inflação mais alta de 2021 deve contaminar os preços em 2022. André Braz, coordenador do índice de preços da FGV, diz que o brasileiro continuará pagando no ano que vem o aumento de preços dado em 2021. “Vamos carregar para 2022 aumentos relativos ao comportamento dos preços neste ano. Esse é o caso do reajuste das escolas e do transporte público. O diesel já subiu 40% neste ano e deve pressionar o preço das passagens de ônibus urbano”, disse.
Para 2022, Braz diz que a inflação deve ficar em 5% na melhor das hipóteses. O que já é muito ruim, se considerar que a meta do BC para a inflação do ano que vem é de 3,5%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.
“A inflação na casa de 10% neste ano e 5% em 2022 é o que a gente consegue ver de melhor neste momento. Existe uma incerteza orientada pela condução da política fiscal, que não está respeitando o teto de gastos. Essa incerteza abre espaço para manter nossa moeda desvalorizada. E desvalorização cambial é uma veia de transmissão para a inflação”, diz Braz.
Inflação mais alta até meados de 2022
Segundo Braz, a inflação continuará vindo acima da média nos próximos meses por conta da alta de preços dos combustíveis e da energia elétrica. “O último aumento de preço da gasolina e diesel ainda não foram captados pelo IPCA de outubro. Essa alta só será sentida no índice de novembro.”
“50% da inflação acumulada nos últimos 12 meses são de combustíveis fósseis e energia elétrica. Isso tem efeito direto nos preços. Se a energia está mais cara, o salão de beleza fica mais caro, o restaurante fica mais caro, o shopping também. Com o diesel é a mesma coisa, pois ele encarece o frete, aumenta o custo do ônibus urbano”, afirma o coordenador.
Quando vamos ter alívio nos preços?
Segundo Braz, o consumidor já deve começar a sentir algum alívio nos preços dos alimentos. No atacado, os preços das carnes, arroz, feijão, soja, milho e leite já estão caindo. “Isso deve começar a chegar ao varejo em novembro.”
Outro alívio deve chegar a partir de abril com revisão das bandeiras tarifárias de energia. “Com o início da temporada de chuvas, devemos ter bandeiras mais amenas, o que deve trazer algum alívio para a inflação a partir de maio.”
Para a LCA, cinco grupos devem tirar parte do fôlego do IPCA em novembro:
Alimentação e bebidas, com destaque para as taxas mais modestas em itens in natura
Açúcares e derivados
Carnes e Leites e derivados
Além disso, a LCA espera que Black Friday dê uma segurada na inflação de novembro. “Com isso, projetamos que o IPCA desacelere para +0,88% em novembro.”
Fonte: 6 Minutos / UOL