O dólar rompeu a barreira psicológica dos R$ 5,50 e fechou a quinta-feira (20) cotado a R$ 5,4172. Foi a segunda queda consecutiva na cotação da moeda norte-americana, que atingiu o menor valor desde o dia 11 de novembro do ano passado.
O 6 Minutos conversou com especialistas para entender por que o dólar inverteu o sinal e acentuou a trajetória de queda. No ano, a moeda americana já contabiliza recuo de 4,65%. No último boletim Focus, divulgado nesta semana, a previsão era de que o dólar terminasse o ano em R$ 5,60.
“Depois que o dólar furou o patamar de R$ 5,50, sentimos uma queda mais forte. Isto aconteceu porque vimos um fluxo maior de entrada de dólares no país, algumas posições sendo desmanchadas e não tivemos nenhuma notícia ruim que poderia contaminar o mercado”, afirma Fernando Giavarina, head de câmbio da Valor Investimentos.
A eleição também tem sua parcela de responsabilidade na queda da cotação da moeda. Por enquanto, os candidatos que lideram as pesquisas são o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente Jair Bolsonaro. Nesta semana, Lula voltou a dizer que simpatiza com a ideia de formar uma chapa eleitoral com o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, dando um tom mais conciliador ao mercado.
“Vimos que Lula tem flertado com partidos que são oposição histórica ao PT, com a possibilidade de ter Geraldo Alckmin como vice. O Lula tem acenado para o pragmatismo, de seguir a regra de não gastar muito. O mercado tem visto esse ponto de forma positiva”, afirma Douglas Ferreira, diretor da mesa de câmbio da Planner Corretora.
Para Ferreira, a melhora no cenário fiscal também deu um alívio ao dólar, com a baixa chance de aprovação do reajuste salarial a funcionários públicos, tema que estava aumentando o mau humor no mercado financeiro. Lá fora, a possibilidade de redução de juros na China e a diminuição do aumento dos rendimentos dos títulos americanos também contribuíram para a queda do valor do dólar.
“Estamos vendo um cenário de risco menor, com menos questões relacionadas ao fiscal trazendo volatilidade. O dólar sobe quando estamos em momentos de mais incerteza”, afirma Fernanda Mansano, economista-chefe do TC.
Até onde vai a queda?
Para os especialistas, é difícil prever os próximos passos do dólar, principalmente por estarmos em um ano eleitoral, que dá mais volatilidade tanto ao câmbio quanto à bolsa de valores. “O dólar deve se manter entre R$ 5,20 e R$ 5,70 ao longo desse ano, até que tenhamos novas notícias tanto sobre a eleição presidencial, como para o desenrolar da pandemia”, afirma Giavarina.
A eleição presidencial deve ser marcada mais uma vez pela polaridade, o que deve influenciar diretamente no valor do câmbio. Para Ferreira, uma taxa normal para o dólar seria na casa dos R$ 5,50, considerando que o Brasil cresça próximo de zero neste ano e o cenário de inflação alta e juros.
“O cenário político tem um peso muito relevante na cotação e acredito que o dólar deve subir com o desenrolar da eleição, a depender do comportamento de cada candidato e das políticas econômicas que vão apresentar”, afirma Ferreira.
“O que pode mudar a direção do dólar são declarações relacionadas à eleição, principalmente de comunicados sobre a economia. Hoje o tema mais sensível é o fiscal. Se um presidenciável tiver um comunicado de que vai gastar mais, pode desagradar o mercado”, afirma Mansano.
A especialista também diz que, se o Fed adiar o aumento dos juros e adotar uma postura mais dovish pode trazer alguma instabilidade à moeda.
Fonte: 6 Minutos/ UOL