O dólar quebrou uma sequência de sete quedas e fechou em alta nesta sexta-feira, mas ainda se manteve abaixo de 5,50 reais e engatou a quarta semana seguida de perdas, após dias de forte redução de posições pessimistas no mercado de câmbio doméstico com algum alívio decorrente do desfecho do Orçamento nas perspectivas fiscais.
A semana foi marcada por relatos de que governo e Congresso chegariam a um acordo sobre o controverso texto orçamentário, o que por si só já contribuiu para descompressão no câmbio. No fim, um consenso foi alcançado e, na noite da véspera, o presidente Jair Bolsonaro sancionou a lei orçamentária de 2021, com bloqueios para garantir o cumprimento do teto de gastos.
Após quedas seguidas, o mercado recompôs nesta sexta parte das posições em dólar, mas longe de aproximar a moeda dos patamares mais altos recentemente alcançados. Sinal de que o otimismo prosseguiu, o Ibovespa fechou em alta de quase 1%, e as taxas de DI chegaram ao fim do dia em quedas de até 8 pontos-base.
Na véspera, o dólar caiu para 5,4558 reais, mínima em dois meses, o que foi considerado pelo Société Générale como um “short-squeeze” –um abrupto desmonte de posições vendidas num ativo (no caso, no real).
O banco avaliou que o recuo de 1,67% levou a moeda a quebrar uma linha ascendente de vários meses, o que aponta mais depreciação. “As próximas projeções indicam 5,37 reais/5,34 reais”, disseram estrategistas do banco em relatório.
O dólar flertou na sessão passada com suas médias móveis lineares de 200 (em torno de 5,44 reais) e 100 dias (cerca de 5,43 reais). Um rompimento sustentado desses suportes pode acionar novas ordens de vendas, baixando ainda mais o preço da moeda.
De forma geral, analistas veem os sinais mais recentes do lado político-fiscal-sanitário como fatores de estabilização da taxa de câmbio, após a moeda brasileira chegar a amargar por várias vezes neste ano o título de pior desempenho global.
“A volatilidade do real segue elevada e descolada de seus pares. Esperamos que até o final do pagamento do auxílio emergencial, no mês de julho, o cenário se torne mais estável, suavizando a trajetória futura da cotação do real frente ao dólar”, disseram em relatório Álvaro Frasson, Leonardo Paiva e Luiza Paparounis, do BTG Pactual.
O BTG projeta em seu cenário-base que o dólar fechará o ano em 5,40 reais, mas considera tendência de que a moeda se aproxime de 5,20 reais –taxa esperada dentro de seu cenário otimista.
Estrategistas do JPMorgan veem período de estabilização nas taxas de câmbio e juros no Brasil na comparação com seus pares emergentes, após performance aquém nos últimos meses.
Além do noticiário político-fiscal menos caótico, o banco norte-americano chama atenção para o efeito dos aumentos da Selic sobre a taxa de câmbio –o JPMorgan projeta nova elevação de 75 pontos-base no juro básico em maio.
“Estimamos que para cada 100 pontos-base de aumentos de juros no Brasil em relação aos emergentes um total de 2,3 bilhões de dólares em posições vendidas em real nos contratos cambiais na bolsa doméstica (B3) pode ser revertido, o que representa um significativo apoio à moeda brasileira.”
Os estrategistas avaliaram ainda que, apesar da melhora recente, o real ainda não parece “esticado”, o que manteria espaço para mais valorização.
O índice de força relativa do dólar/real para 14 dias –que mede quão rapidamente um ativo se movimentou em relação à sua média histórica– caiu para 41,9 nesta sessão, ainda a alguma distância da marca de 30, abaixo da qual um ativo estaria excessivamente desvalorizado (no caso, o dólar).
Na outra ponta, valores próximos a 70 sinalizam excesso de valorização. No fim de março, o IFR-14 estava em quase 65.
Fonte: Reuters