O dólar ainda tem espaço para cair, mas há dúvidas se uma posição favorável ao real neste momento compensa o risco, disse Evandro Buccini, diretor de renda fixa e multimercado da Rio Bravo.
Desde a máxima recente, de 29 de março (5,7681 reais), o dólar recua 5,2%, cotado nesta quinta a 5,4687 reais.
“Os problemas políticos e fiscais vão continuar, porque é meio que a realidade brasileira. A gente bateu no teto de gastos, teve de fazer gastos adicionais com a pandemia. É natural que isso não se submeta ao teto, dada a gravidade do problema, mas a forma como isso foi conduzido às vezes não foi a ideal”, disse.
Outro ponto de incerteza sobre a extensão de um rali do real vem do exterior.
“Lá nos Estados Unidos a discussão de inflação, de aumento da curva de juros, dos juros futuros, esfriou bastante. Mas é algo que pode voltar ao radar, especialmente com essas novas discussões de estímulos em diferentes frentes nos EUA”, acrescentou Buccini.
Com isso, o gestor disse que por ora não carrega grandes posições em câmbio nos fundos multimercados da casa. Mas ele considerou que a esperada melhora da atividade econômica –com a reabertura dos negócios e à medida que os números da Covid-19 deixam os picos– ainda pode tirar pressão dos mercados.
“Vai tirar um pouco (da pressão). A maior parte da pressão sobre os ativos não vem daí (pandemia), mas um pouco, sim, sobretudo dessa intersecção política-fiscal-pandemia.”
De forma geral, a Rio Bravo reduziu nos multimercados posições favoráveis à bolsa e as compensou com montagem de posições direcionais doadas em juros nominais –especialmente no “20 alto” da curva, como os vencimentos em 2027 e 2028– e reais –em torno do vértice 2030.
“Apesar de não termos uma visão superpositiva para o fiscal, com a melhora da pandemia há também uma melhora do humor sobre os gastos usados para combater (a crise sanitária). Isso melhora um pouquinho os preços”, afirmou o gestor.
Buccini não descarta que o Banco Central possa ser levado a estender o ciclo de normalização da Selic, o que seria positivo para o real sob certas circunstâncias.
“A gente tem que ver como vai se comportar a inflação nessa situação. Se o BC precisar elevar mais os juros por causa de uma inflação que vem com a recuperação econômica, acho que é bom para o câmbio. Além dos juros mais altos, teríamos crescimento.”
Fonte: Reuters