O dólar caía, mas continuava sendo negociado próximo dos 5,30 reais na manhã desta quinta-feira, e, segundo investidores, tem espaço para alcançar patamares ainda mais elevados em meio à grande tensão institucional doméstica, agravada recentemente por discurso mais agressivo do presidente Jair Bolsonaro.
Às 10:18, o dólar recuava 0,44%, a 5,3004 reais na venda. Embora tenha operado em território negativo por boa parte da manhã, o dólar chegou a ser negociado brevemente em alta, tocando 5,3350 reais na venda (+0,21%) no pico do pregão, alcançado por volta das 9h40.
Na B3, o dólar futuro caía 0,39%, a 5,313 reais.
Segundo Vanei Nagem, responsável pela Mesa de Câmbio da Terra Investimentos, a queda do dólar vista no início dos negócios desta terça feira seria apenas uma pequena realização de lucros, com o clima nos mercados continuando extremamente pessimista.
“Acho que hoje vai ser um dia nervoso, continua a mesma pressão” política vista na véspera, quando o dólar à vista saltou 2,84% no fechamento, para 5,3236 reais, sua maior valorização percentual diária desde 24 de junho de 2020 (+3,33%).
Em meio à incerteza institucional gerada por “queda de braço” entre os poderes, “a tendência do mercado é ir ainda mais para cima, e o dólar pode buscar uns 5,40 reais” no curto prazo, afirmou Nagem.
Marcos Weigt, head de tesouraria do Travelex Bank, concorda que as tensões em Brasília devem continuar atrapalhando o desempenho do real. “Acho muito difícil o dólar ficar abaixo dos 5,30 reais no curto prazo, a não ser que haja uma grande virada de jogo na política”, opinou.
Segundo ele, não fosse o intenso ciclo de elevação de juros do Banco Central — que eleva a atratividade do real para estratégias de “carry trade” — o dólar estaria em patamar ainda mais elevado.
Os investidores — que já apresentavam cautela sobre o cenário doméstico há semanas em meio a temores sobre a capacidade do governo de honrar suas obrigações e respeitar o teto fiscal — intensificaram o resguardo na esteira de discurso de Bolsonaro em atos do dia 7 de Setembro.
Na ocasião, Bolsonaro atacou, diante de apoiadores, os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso e ameaçou descumprir decisões, dizendo que jamais será preso por “canalhas”. Bolsonaro repetiu que só sairia da Presidência “preso, morto ou com vitória”.
Elevando a apreensão dos mercados, a madrugada contou com paralisações em estradas de vários Estados brasileiros por caminhoneiros em apoio ao governo. O presidente vai se reunir ainda na manhã desta quinta-feira com representantes da categoria, disse Bolsonaro a apoiadores.
Fonte: Reuters