O dólar se afastou das máximas da abertura, mas ainda subia contra o real nesta quarta-feira, com os negócios influenciados pelo rali global da moeda norte-americana e pelo desconforto de players acerca das tratativas para volta do auxílio emergencial em meio a risco de ingerência política em preços de combustíveis.
O dólar à vista subia 0,42%, a 5,3966 reais na venda, às 13h34. O mercado abriu às 13h depois de dois dias fechado pelo feriado bancário durante o Carnaval.
O tema que tem mexido com a dinâmica dos mercados no exterior é o "trade" de reflação, discussão alimentada pela percepção de que um caminhão de estímulos monetários e fiscais pode em algum momento gerar pressões inflacionárias, o que eventualmente poderia levar o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) a retirar parte do suporte concedido aos mercados para enfrentamento da crise causada pela pandemia.
O Fed divulgará às 16h (de Brasília) desta quarta-feira a ata de sua última reunião de política monetária.
Dados mostraram nesta manhã que os preços ao produtor dos EUA avançaram em janeiro à maior taxa desde 2009, sugerindo que a inflação nas portas das fábricas está começando a subir. A inflação no Reino Unido também acelerou em janeiro.
Uma inflação mais alta tende a aumentar os rendimentos dos Treasuries, fortalecendo, assim, a atratividade do dólar perante rivais. A taxa do Treasury de dez anos, referência global para a renda fixa, bateu nesta sessão o maior patamar em um ano.
O índice do dólar contra uma cesta de rivais subia 0,3%, para máximas desde o começo da semana passada. Moedas emergentes pares do real se desvalorizavam, com destaque para peso mexicano (-0,2%), peso colombiano (-0,45%) e rublo russo (-0,6%).
"Contrariando o consenso, esperamos que a reflação global seja menos que um vento a favor para a América Latina em relação a episódios passados de forte crescimento", disseram estrategistas do Morgan Stanley em nota.
"Vemos riscos assimétricos para os juros reais nos EUA e o dólar. Baixo 'carry', fraca posição fiscal e baixa produtividade fazem da América Latina o link fraco nos mercados emergentes", acrescentaram.
No Brasil, o cenário para as contas públicas segue no radar dos agentes, em meio a riscos de que uma volta do auxílio emergencial ocorra de forma a ameaçar o teto de gastos --considerado a âncora fiscal do país neste momento. Além disso, investidores voltavam a colocar nos preços algum ruído sobre medidas do governo voltadas aos caminhoneiros.
Segundo a Guide, o presidente Jair Bolsonaro prometeu na véspera outra novidade que pode reduzir o preço do óleo diesel e que o governo também discute possíveis alterações que abrirão o caminho para mais benefícios sociais destinados aos caminhoneiros. Os mercados sentiram recentemente o impacto negativo de declarações semelhantes feitas pelo presidente.
"A atenção dada aos caminhoneiros é bem-vista pelo mercado por afastar a possibilidade de uma nova paralisação, mas parte dos investidores ainda teme que as tentativas do governo de agradar a categoria possa resultar em uma interferência na política de preços da Petrobras ou políticas que acentuem o endividamento público, apesar das declarações do presidente que negaram ambas as possiblidades", disse Victor Beyruti, economista da Guide.
Fonte: Reuters