A exemplo do que aconteceu ontem, com a divulgação da atividade do setor varejista surpreendendo com uma alta muito superior à projetada, nesta sexta-feira (15) foi a vez do setor de serviços superar as estimativas, com um alta de 0,7%. Para os economistas, isso é efeito especialmente do mercado de trabalho aquecido e dos ganhos salariais. Com isso, as projeções para o PIB do 1º trimestre estão sendo revistas para cima.
A geração mais alta que o esperado de vagas formais de emprego em janeiro, também divulgada hoje pelo Caged, ajudam a comprovar a tese.
João Savignon, chefe de pesquisa macroeconômica da Kínitro Capital, destacou não só os dados mais fortes que o esperado em janeiro, mas também a revisão para cima dos dados anteriores. “A alta foi disseminada e a única queda do mês, em serviços prestados às famílias, pareceu mais uma acomodação das altas registradas nos meses anteriores”, comentou.
Ainda que o economista mantenha uma visão que o setor de Serviços deva ter uma desaceleração compatível com a acomodação do ritmo de crescimento da atividade, dada a base de comparação elevada, o tracking interno da Kínitro para o PIB no 1º trimestre cresceu e passou a apontar um crescimento de 0,6% na comparação trimestral e de 2,2% na anual.
Lucas Barbosa, economista da AZ Quest, também chamou a atenção para a alta disseminada e comentou que, até mesmo os serviços prestados às famílias – o único segmento que mostrou queda na margem – vinha de um número muito forte no acumulado dos últimos três meses.
Para o economista, essa dupla divulgação de atividade aquecida (varejo e serviços) comprova leituras que vinham sendo feitas. “O mercado de trabalho mais aquecido, principalmente com os salários, que tem sido uma preocupação do Banco Central, tem se traduzido em uma atividade mais forte até o momento. A gente observa também a melhora nas condições de crédito”, acrescentou.
A visão de Rodolfo Margato, economista da XP, vai na mesma linha. “Os serviços prestados às famílias caíram na margem, mas sua tendência de crescimento de curto prazo permanece”, comentou.
Ele disse ainda que o setor de serviços ganhou força nos últimos meses, o que mostra sinais positivos tanto para o varejo, como para a indústria de manufatura e a construção, considerados setores sensíveis ao ciclo econômico. “Esperamos que o setor de serviços como um todo cresça 2,7% em 2024, após o ganho de 2,3% registrado em 2023”, previu
Após os dados divulgados pelo IBGE na semana, o tracker da XP para o crescimento do PIB no 1º trimestre de 2024 melhorou, de 0,7% para 0,8%, ante o 4º trimestre de 2023. E de 2,3% para 2,5% ante o 1º trimestre de 2023.
Claudia Moreno, do C6 Bank, que também destacou o aquecimento da atividade nesse início de ano, é outra economista a creditar boa parte da expansão divulgada o mês como reflexo do bom momento do mercado de trabalho e do aumento da massa salarial. “Também entendemos que os estímulos fiscais, como o pagamento de precatórios, podem estar estimulando a atividade”, acrescentou.
O C6 Bank elevou sua projeção de crescimento do PIB de 2024 de 2,2% para 2,4%.
Igor Cadilhac, economista do PicPay, lembrou que o setor de serviço engatou o terceiro resultado positivo consecutivo e ainda reverteu a sequência de quatro contrações na comparação interanual.
“Olhando à frente, esperamos que esse cenário se mantenha pelo menos até meados do ano. Por ora, projetamos um crescimento de 0,5% do PIB no primeiro trimestre deste ano, mas os números de janeiro impõem um viés de alta para nossas estimativas de PIB do 1º tri e, consequentemente, para 2024.”
Risco inflacionário
Matheus Pizzani, da CM Capital, alertou que a alta do serviços técnico-profissionais pode ser uma sinalização positiva para o desempenho do PIB como um todo, mas também podem ter impactos negativos sobre a dinâmica inflacionária.
“Os serviços profissionais como um todo apresentaram em janeiro crescimento mais elevado que nos três trimestres anteriores, indicando uma demanda aquecida em um ambiente em que a inflação de serviços, e especialmente os serviços subjacentes, tem gerado preocupação há pelos menos dois meses”, lembrou.
Para ele, embora ainda não haja evidências suficientes para indicar que este movimento deve preocupar em termos de inflação, sua manutenção ao longo do tempo e a resiliência da inflação de serviços podem causar algum impacto em termos de política monetária.
“Este cenário não está contemplado nas projeções da CM Capital. Seguimos projetando uma queda da inflação de serviços ao longo do ano, acompanhada de maneira paulatina pela desaceleração do nível de atividade do setor”, comentou, interpretando o resultado de janeiro como movimento pontual e sem força suficiente para se tornar perene.
Na análise do Santander Brasil, o desempenho negativo nos serviços às famílias em janeiro pode indicar que o aumento da renda familiar proveniente do pagamento de precatórios foi provavelmente direcionado ao consumo de bens.
Fonte: InfoMoney
Extraído de InfoMoney