Fim da desoneração da gasolina deve ter impacto de até 0,60 ponto no IPCA de março

Notícias do Mercado

Notícias do Mercado

Fim da desoneração da gasolina deve ter impacto de até 0,60 ponto no IPCA de março

09/01/2023

Compartilhe:

A prorrogação da isenção de impostos federais sobre combustíveis até 28 de fevereiro, definida na semana passada por meio de medida provisória, coloca pressão sobre a equipe econômica, que ainda busca uma melhor equação entre receitas e despesas para demonstrar seu compromisso com a responsabilidade fiscal. Mas também já deixa contratada uma inflação mais alta para os meses de março e abril, quando o impostos voltarão a ser cobrados, pelo menos no caso da gasolina.

 

Analistas consultados pelo InfoMoney calculam um impacto entre 0,40 e 0,60 ponto porcentual no IPCA entre março e abril só pela volta do PIS/Cofins e Cide sobre a gasolina.

 

A possibilidade de reoneração passou a entrar no radar das equipes de bancos e corretoras nas últimas semanas do ano passado e isso está espelhado no Boletim Focus. A projeção do IPCA para 2013, que estava em 5,08% há quatro semana, hoje está em 5,36%. A expectativa para os preços administrados, por sua vez, foi de 6,09% para 6,79% na mesma comparação.

 

“Nossa projeção para o IPCA de 2023 é de 5,8%. A projeção mudou recentemente de um IPCA de 5,4%, devido ao impacto da reoneração do PIS/Cofins sobre a gasolina. O que significa que, diante da nossa projeção de 0,41% para o IPCA de dezembro, 2023 tende a ter um IPCA superior a 2022”, disse Eduardo Vilarim, economista do Banco Original.

 

O impacto específico da alta na gasolina seria de, aproximadamente, 0.60 ponto porcentual, distribuídos entre março e abril, nas contas do Original. “Nosso IPCA de março, por exemplo, saltou de 0,42% para 0,70%”, afirmou Vilarim.

 

Tatiana Nogueira, economista da XP, disse que a equipe já havia realizado uma alteração na projeção do IPCA para este ano, de 5,2% para 5,4% por enxergar a possibilidade forte da volta de impostos sobre combustíveis, por ser “é uma arrecadação bastante significativa para o governo abrir mão neste ano, quando vai ser importante fazer o ajuste fiscal mesmo com os gastos muito mais elevados”.

 

Para ela, o fim da desoneração em março deve levar a uma alta de aproximadamente 10% no preço da gasolina a partir de março, com algum repasse também sendo feito em abril. “Não bate tudo de uma vez porque as cadeiras vão repassando o preço ao longo da semana corrente ou da semana seguinte. Então grande parte já vai bater no mês de março, fazendo o preço subir quase R$ 0,70 no litro da gasolina”, prevê.

 

Isso deve significar aproximadamente meio ponto de alto na inflação. A economista destaca que, com outros preços seguindo sua própria dinâmica, o IPCA de março deve vir um pouco abaixo dos 0,80%.

 

Rafael Cardoso, economista-chefe da Daycoval Asset, concorda que haverá um forte impacto quando PIS/Cofins e Cide voltarem a incidir sobre a gasolina. “Se voltar na totalidade, a gente calcula que o impacto pode ser de até 60 pontos base para o IPCA”, afirmou.

 

Com isso, a projeção da Daycoval sairia de 5,40% para algo próximo a 6%. Caso aconteça também uma reoneração de ICMS, por conta de uma decisão judicial, chegaria a 6,50% no final do ano.

 

Impacto nos juros

Com a pressão maior de preços e as expectativa ainda forte para a inflação por conta das incertezas sobre a política fiscal do novo governo, a previsão dos economistas é que o Banco Central realize apenas pequenos cortes na taxa de juros e que isso só deve ocorrer no segundo semestre. Se ocorrer.

 

“A cada elevação das expectativas para o IPCA, fica mais difícil imaginar cortes na taxa básica de juros. Hoje trabalhamos com uma Selic terminal de 12,50% ao final de 2023, com cortes se iniciando a partir da 6ª reunião, de agosto, de 0,25 ponto, seguido por mais 2 cortes de 0,50 em ambas as reuniões subsequentes”, previu Vilarim.

 

Ele ponderou, no entanto que, alguns modelos já “pedem” uma Selic terminal de 13%, diante da desancoragem as expectativas. “Seguimos monitorando e calibrando tais modelos. Mantemos o cenário básico, mas os riscos trazem um viés de alta para os juros”, disse.

 

Tatiana, da XP, acredita que, mesmo com a alta extra prevista para março e abril, o Banco Central vai se encontrar num dilema ao final do primeiro semestre porque a inflação corrente estará baixa, mas as expectativas podem estar ainda desancoradas devido à visão de que a política fiscal atual é expansionista.

 

“A partir de maio, junho, a gente vai ter uma inflação bastante baixa e isso pode alimentar a pressão sobre o BC para iniciar um ciclo de corte de juros. Num ambiente em que o governo sinalize mais previsibilidade dos gastos públicos, uma nova regra ou mesmo a manutenção dessa regra com alguma modificação e o mercado entenda que isso pode garantir a estabilidade da dívida, podemos ver espaço para um corte de julho a partir de junho ou julho, sem comprometer a convergência da inflação à meta”, comentou.

 

Para Cardoso, da Daycoval Asset, existe uma possibilidade de o BC reduzir a Selic a partir de agosto. Para ele, o Copom vai começar “devagar”, com um corte de 25bps. “Mas tem espaço para terminar o ano em 12%”, afirmou. Segundo ele, a projeção mudou para este ano, pois estava em 11,75%.

 

“Mas nossa alteração mais forte foi para 2024: a gente tinha 8% e agora a gente tem 9%. Por duas razões: a primeira é pela expectativa de IPCA, que tem impacto pela decisão do BC. E a segundo é porque tem um nível de incerteza muito alto. O BC vai querer ver essas coisas solucionadas para eventualmente agir.”

 

Fonte: InfoMoney

MAIS

Notíciais Relacionadas