O tempo seco e as geadas que acometeram as regiões produtoras de cana-de-açúcar no Centro-Sul do país provocaram efeitos adversos na oferta dos produtos sucroenergéticos. Assim, para a analista do setor sucroenergético da hEDGEpoint Global Markets, Lívea Coda, o rumo do mercado de açúcar será ditado, nos próximos meses, pela perspectiva de oferta brasileira, demanda mundial e conflitos geopolíticos.
“O tempo mais seco e as geadas em 2021 afetaram a produção do Centro-Sul do Brasil, antecipando o final da safra 2021/22”, pontuou ela durante o segundo dia de webinar da hEDGEpoint, nesta quarta-feira, 23. “Isso adicionou pressão aos fluxos comerciais e sustentou os preços durante o terceiro e quarto trimestre do ano”.
Para a mesma região, a hEDGEpoint estima um crescimento de 1,1% no consumo de combustível (ciclo Otto) em 2022/23. A baixa demanda adicional, segundo a consultoria, é resultado dos altos preços dos combustíveis e da corrosão do poder de compra da população dada alta taxa de inflação e baixo crescimento econômico previsto para 2022.
Assim, o mix de produção das usinas deve ser mais doce, com 46% da matéria-prima sendo dedicada ao adoçante. Para a consultoria, isso se justifica porque a demanda por combustíveis deve se manter abaixo dos níveis pré-pandemia e porque os estoques de etanol se encontram “confortáveis”.
Ainda de acordo com as estimativas da consultoria, a quantidade total de açúcar em 2022/23 poderá variar entre 33,8 e 35 milhões de toneladas, a depender da moagem cana (estimada entre 551 e 570 milhões de toneladas). O resultado no campo, por sua vez, está diretamente relacionado ao clima.
“Atualmente, nos encontramos céticos quanto a uma recuperação de mais de 25 milhões de toneladas para a próxima safra, uma vez que parte da cana já foi afetada pelo clima adverso em 2021 e esperamos renovação do canavial”, afirma Coda, que segue: “Dessa forma, nos mantemos no limite inferior do intervalo (551 mi t de cana) e esperamos que o Brasil contribua com 31,5 milhões de toneladas de açúcar (outubro a setembro), consolidando, juntamente com um crescimento de 1,1% da demanda mundial, um déficit de 1,4 milhão de toneladas”.
Em relação à China, a analista observa que o país tem se destacado como grande importador da commodity e, mesmo com arbitragem fechada, moveu entre outubro e novembro de 2021 cerca de 90% do volume que importou quando ganhava um prêmio de US$ 150/t em 2020. A hEDGEpoint estima que a nação asiática deve importar cerca de 5,7 milhões de toneladas nesta safra, ante 6,3 milhões de toneladas na temporada anterior.
O diretor da mesa de açúcar na hEDGEpoint, Fabio Mendes, destaca que o mercado está em um período de transição de preços em relação aos fundamentos específicos. Segundo ele, o retorno do Brasil a partir do segundo trimestre retira parte da pressão sentida no fluxo comercial hoje e, assim, seria possível esperar que o patamar de preços atual (entre 17,8 e 19,3 centavos de dólar por libra-peso) se mova para baixo (de 16,8 a 18,3 centavos de dólar).
“É claro que essa visão possui riscos. Dentre eles, destacam-se um reaquecimento da demanda, o clima e, principalmente, os desdobramentos das tensões geopolíticas”, disse Mendes. “Fatores externos ao mercado que aumentem a percepção de risco, ou até mesmo elevem o valor das commodities energéticas, devem ser monitorados de perto para melhor entendermos os preços de açúcar no futuro”, observa.
Fonte: hEDGEpoint Global Markets
Extraído de NovaCana