O Ibovespa (IBOV) pode até tentar acompanhar a sinalização positiva para o dia vinda do principal fundo de índice (ETF) brasileiro negociado em Nova York. Mas o fato é que a bolsa brasileira segue sensível à queda-de-braço entre o Banco Central e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O ato de generosidade do Comitê de Política Monetária (Copom) foi insuficiente para aliviar a tensão. Divulgada ontem, a ata da reunião da semana passada reconheceu que o pacote de medidas do Ministério da Fazenda pode atenuar o risco fiscal. O documento provocou um alívio passageiro no Ibovespa.
Até que novas declarações do presidente afastaram o Ibovespa dos 110 mil pontos. Desde que falou sobre a autonomia do BC, metas de inflação e nível da taxa Selic, ainda na primeira entrevista exclusiva à imprensa nacional, Lula abriu o debate sobre temas caros aos mercados.
Muito além de Lula e BC
Só que, a partir daí, o presidente passou a ser o negociador de assuntos econômicos. Mais que isso, ele colocou a questão em evidência, chamando outros atores para a cena. Não era, portanto, nenhuma distração por parte do Executivo, como parecia ser. Ao contrário, era uma tática de ação.
Além de convocar associações ligadas à atividade, Lula clamou também acionou o Congresso, a quem, segundo ele, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, deveria dar explicações. Portanto, não se trata mais de uma discussão apenas entre o Executivo e a autoridade monetária, com o mercado arbitrando a pauta.
Nessa disputa, pendem, de um lado, as incertezas em relação às contas públicas, em meio à espera por uma nova âncora fiscal e à demora no andamento da agenda de reformas. De outro, estão o nível elevado do juro básico e o ritmo do crescimento econômico. No meio de tudo isso, está a inflação.
Aliás, ontem, o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, continuou festejando o processo inicial de desinflação nos Estados Unidos, o que devolveu o otimismo a Nova York. Porém, ele não descartou o risco de aumentos maiores nos juros, caso os dados de emprego (payroll) continuem fortes. Como consequência, os mercados globais recalculam a rota e voltam ao terreno negativo nesta manhã.
Assim, não é apenas a ausência de uma trégua na queda-de-braço entre Lula e BC que dificulta uma possível recuperação dos ativos brasileiros. A política é um assunto árido – inclusive nas suas variações monetária e fiscal. Tem uma linguagem própria e cheia de minúcias. Ou seja, o desafio dos investidores é ler a mensagem que está nas entrelinhas.
Confira o desempenho dos mercados globais por volta das 8h10:
EUA: o futuro do Dow Jones caía 0,18%; o do S&P 500 recuava 0,25% e o Nasdaq tinha queda de 0,15%;
NY: o Ibovespa em dólar (EWZ) subia 3,03%, aos 28.94 pontos no pré-mercado; nos ADRs, o da Vale caía 0,29%, enquanto o da Petrobras tinha leve alta de 0,39%;
Europa: o índice pan-europeu Stoxx 600 subia 0,96%; a bolsa de Frankfurt ganhava 0,93%; a de Paris avançava 0,73% e a de Londres crescia 0,83%;
Ásia: o índice japonês Nikkei 255 fechou em baixa de 0,29%, enquanto o Hang Seng, em Hong Kong, caiu 0,07%; a Bolsa de Xangai recuou 0,49%;
Câmbio: o índice DXY caía 0,29%, 103.13 pontos; o euro tinha alta de 0,12%, a US$ 1,0743; a libra subia 0,36%, a US$ 1,2090; o dólar caía 0,19% ante o iene, a 130,84 ienes;
Treasuries: o rendimento da T-note de dez anos estava em 3,656%, de 3,677% na sessão anterior; o rendimento da T-bill de 2 anos estava em 4,442%, de 4,471% na mesma comparação;
Commodities: o futuro do ouro subia 0,45%, a US$ 1.893,50 a onça na Comex; o futuro do petróleo WTI subia 1,05%, a US$ 77,94 o barril; o do petróleo Brent tinha alta de 0,78%, a US$ 84,33 o barril; o contrato futuro do minério de ferro (maio) fechou em baixa de 0,11% em Dalian (China), a 841 yuans a tonelada métrica, após ajustes.
Fonte: MoneyTimes