Imagem: Plant Defender
A indústria de fertilizantes no Brasil cresce, em média, entre 2% e 3% ao ano, mas, no ano passado, o aumento foi de pelo menos 6%, estima Eduardo Monteiro, vice-presidente comercial da Mosaic Fertilizantes, subsidiária da americana Mosaic Company no Brasil e no Paraguai. Com o salto, afirma o executivo, é possível que, em 2021, as vendas no país superem, pela primeira vez, a marca de 40 milhões de toneladas.
"Nossa percepção é que o mercado saiu de 36,3 milhões de toneladas e fechou 2020 entre 38,5 a 39 milhões de toneladas. Esse desempenho pode abrir espaço para chegarmos a 40 milhões de toneladas em 2021", disse o executivo ao Valor.
No fim do ano passado, as projeções apontavam para um crescimento de até 5% da demanda brasileira por adubos. Com as empresas em fase de fechamento de seus balanços, os cálculos têm sido revistos para cima.
O milho safrinha se mostra decisivo para o avanço. De acordo com os números da área de inteligência de mercado da Mosaic Fertilizantes, a demanda por adubo na cultura cresceu 17,6% em 2020 em relação ao ano anterior, para 4,6 milhões de toneladas - em volume, o acréscimo foi de 667 mil toneladas. Já a soja, carro-chefe do agronegócio nacional, consumiu 6,6% mais adubos em 2020 do que em 2019. Com a adição de 1 milhão de toneladas entre um ano e outro, o consumo na cultura passou a 16,3 milhões de toneladas.
Conforme o último levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a área plantada com soja no Brasil aumentou 3,4% entre a safra 2019/20 e a 2020/21, chegando a 38,2 milhões de hectares. Impulsionada pelo uso de tecnologias - entre as quais os fertilizantes -, a produção cresceu 7,1% na mesma base de comparação, para 133,7 milhões de toneladas. Para o milho safrinha, a projeção da Conab é que a área mantenha-se em 13,8 milhões de hectares, mas que, ainda assim, a produção aumente 2,3%, a 76,8 milhões de toneladas.
Monteiro lembra que o clima seco atrasou o plantio da soja, o que levou a revisões no cenário para o milho safrinha. No entanto, como o produtor já havia comprado seus adubos, o impacto para as fabricantes do insumo foi limitado. Além disso, afirma ele, com os preços dos grãos nas alturas, a tendência é de aumento nos investimentos nas lavouras. As cotações do milho em Mato Grosso, que eram, em média, de R$ 36 a saca em janeiro de 2020, hoje estão próximas a R$ 64 a saca. No caso da soja, os preços no Estado, maior produtor do país, saíram de R$ 70 para R$ 148 a saca.
A demanda por adubo aumentou até mesmo nas lavouras de cana-de-açúcar, segmento em que se acenderam alertas no início da pandemia, quando houve queda abrupta nos preços do etanol - a Mosaic estima que o consumo de fertilizantes nos canaviais cresceu 4,2% em 2020. Para o café, a alta calculada é de 4,5%, e, para o trigo, de 16,4%.
Nas estimativas da empresa, a demanda por adubos caiu apenas no cultivo de algodão. Como a cultura perdeu área em 2020/21 em relação ao ciclo anterior - a diminuição foi de 8,8%, segundo a Conab -, o consumo de fertilizantes caiu 11,6%, calcula a Mosaic, ou o equivalente a 182 mil toneladas.
A demanda por adubo tende a continuar aquecida em 2021, acredita Monteiro, e a percepção já é de uma procura acelerada por antecipações. "Do lado de lá, o produtor está preocupado com os custos dos insumos e atento ao novo ciclo de alta das commodities", diz o executivo. "Do lado das indústrias, vê-se uma tendência de reajuste, acompanhando a forte demanda".
No caso do potássio, cortes de capacidade produtiva feitos a partir de 2019 por companhias como a canadense Nutrien e a própria Mosaic têm ajudado a reequilibrar a oferta do insumo no mercado, depois que os preços do cloreto de potássio (KCl) se aproximaram de seu menor patamar em dez anos. Quadro semelhante foi visto na produção de fosfatados. Para os nitrogenados, cuja fabricação depende de matérias-primas como gás natural e carvão, a alta de preços é sazonal. Isso ocorre em virtude da concorrência por essas fontes de energia no Hemisfério Norte, onde elas também são utilizadas para calefação no inverno.
De qualquer forma, avalia Monteiro, a relação de troca dos grãos pelos fertilizantes ainda é favorável. Nesta época no ano passado, diz ele, eram necessárias 18,2 sacas de soja para comprar uma tonelada de fertilizante no norte de Mato Grosso; agora, são 11,8, em média. Para o milho, eram a relação de troca passou de 38 a 30 sacas de um ano a outro.
O presidente Jair Bolsonaro assinou um decreto, publicado ontem, que cria um grupo de trabalho interministerial para elaborar o Plano Nacional de Fertilizantes. O objetivo, diz o texto, é "fortalecer políticas de incremento da competitividade da produção e da distribuição de insumos e de tecnologias para fertilizantes" para "diminuir a dependência externa e ampliar a competitividade do agronegócio brasileiro". O país importa cerca de 75% dos fertilizantes que consome, de acordo a Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda). "O Brasil caminha para chegar à terceira safra anual, e isso aumentará o consumo de fertilizantes", disse ao Valor o secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, César Halum.
Fonte: Valor Econômico