Usinas mudaram o perfil produtivo durante a pandemia e redirecionaram a matéria-prima para produção de açúcar
Com a pandemia da Covid-19, as usinas que processam cana-de-açúcar mudaram o perfil produtivo. De acordo com a Associação de Produtores de Bioenergia de Mato Grosso do Sul (Biosul) a produção do etanol caiu enquanto a de açúcar mais que dobrou no período.
Dados da Biosul apontam que até a segunda quinzena de dezembro a produção de etanol somou 2,7 bilhões de litros, volume 13% menor comparado ao ciclo anterior, quando foram produzidos 3,1 bilhões de litros.
Desse total, 2 bilhões de litros correspondem a etanol hidratado (-18%) e 667 milhões de litros de anidro (-4%).
Enquanto a produção de açúcar alcançou 1,73 milhão de toneladas, quantidade 140% maior com relação à safra passada quando foram produzidas 722 mil toneladas.
O montante da safra atual se aproxima do recorde de produção do alimento no Estado registrado em 2017, quando atingiu 1,74 milhão de toneladas de açúcar.
Segundo a Associação, a matéria-prima destinada para produção de açúcar saltou de 12% para 28% no comparativo com a safra passada. Ainda assim, o percentual para a produção de etanol é de 72%, dentro da média esperada para o Estado, que é o quarto maior produtor do biocombustível no País.
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O presidente da Biosul, Roberto Hollanda Filho, explica que Mato Grosso do Sul vem de duas safras extremamente alcooleiras, “favorecidas pelas condições de mercado, com uma melhor remuneração para o etanol e a consolidação do RenovaBio que fizeram com que o mix de produção do biocombustível chegasse a 90%”.
Ainda de acordo com o presidente, esse cenário mudou no último ano com a chegada da pandemia, fazendo com que as unidades readaptassem esse mix por conta, principalmente, da redução no consumo de combustível, redirecionando a matéria-prima para a produção de açúcar.
“Para complementar tivemos a valorização do dólar, com alta de 30% com relação a 2019, e as cotações do adoçante que também se comportaram em alta, tornando o mercado internacional novamente atraente para o açúcar”, explica.
Safra
A safra de cana-de-açúcar 2020/2021 acumula 45 milhões de toneladas processadas em Mato Grosso do Sul. A quantidade, contabilizada até 31 de dezembro de 2020, ultrapassa a última temporada que somou 44,2 milhões de toneladas no mesmo período (+1,8%).
A escassez de chuvas, que prejudicou outras lavouras, contribuiu para o avanço na colheita da cana.
“Apesar do período de entressafra, o favorecimento do clima permitiu que as unidades em operação progredissem na colheita com mais velocidade no campo, alcançando em termos de quantidade a safra passada”, afirma Hollanda.
Outro destaque da temporada é a melhora da qualidade da matéria-prima que atingiu 142,39 kg por tonelada de cana no período acumulado da safra, aumento de 3,7% na concentração de Açúcares Totais Recuperáveis (ATR/TC).
Exportações
As mudanças no perfil de produção sucroenergética do Estado contribuíram para o saldo positivo da balança comercial do Estado.
A exportação de açúcar, de janeiro a dezembro de 2020, atingiu receita de US$ 299 milhões. O número é do sistema Comex Stat do Ministério da Economia e indica aumento de 346% com relação às vendas externas no mesmo período do ano passado, quando registrou ganho de US$ 67 milhões.
Em quantidade, 1,1 milhão de toneladas do adoçante foram embarcadas pelo Estado em 2020, um aumento de 371% com relação a 2019.
Com os resultados acima, a participação do açúcar na balança comercial do Estado correspondeu a 5%. Canadá, Argélia e China foram os principais mercados de destino do açúcar sul-mato-grossense.
O volume de açúcar exportado por Mato Grosso do Sul cresceu cinco vezes em 2020, chegando a 1,13 milhão de toneladas e com faturamento de US$ 303 milhões de dólares.
Os dados foram divulgados pela Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar (Semagro) e mostram a adaptação do setor ao mercado no ano passado.
Em 2019 o setor representava apenas 1,23% das exportações do Estado, em 2020 o percentual saltou para 5,22%. Na variação de volume enviado para o mercado externo o crescimento é de 371,7% em um ano. O maior aumento entre os principais produtos da balança comercial de Mato Grosso do Sul.
Setor
O setor sucroenergético representa 8% do PIB de Mato Grosso do Sul, com receita bruta estimada em R$ 11 bilhões em 2019.
É responsável por grande movimentação econômica com 22 mil trabalhadores, sendo 10 mil apenas na produção de álcool, conforme os dados disponíveis na nota técnica da Semagro.
Em 2020 o setor sucroenergético agiu rápido em aderir aos protocolos de biossegurança e em adaptar a produção para atender as demandas do mercado externo, de acordo com o titular da Semagro, Jaime Verruck.
“A produção de açúcar ganhou espaço nas usinas de açúcar e álcool com as condições mais favoráveis para exportação e o resultado é o crescimento recorde do setor”, disse o secretário.
A Argélia, no norte da África, é o país que mais comprou açúcar do Mato Grosso do Sul em 2020, passando de 48,2 mil toneladas em 2019 para o total de 241 mil toneladas adquiridas no ano passado.
A China é o segundo maior comprador e também ampliou o mercado em 2020, passando de 7,9 mil toneladas para 132 mil toneladas.
Para o presidente da Biosul, o açúcar deve se destacar novamente na próxima safra.
“ Também tivemos a valorização do dólar, com alta de 30% com relação a 2019, e as cotações do adoçante que também se comportaram em alta, tornando o mercado internacional novamente atraente para o açúcar e resultando em saldo positivo nas exportações. A expectativa 2021/2022 é que o cenário permaneça atraente para o mercado de açúcar”, destaca Hollanda.
Fonte: Correio do Estado