Em sua primeira estimativa para a temporada 2022/23 de cana-de-açúcar, a StoneX projeta uma moagem de 565,3 milhões de toneladas no Centro-Sul, podendo representar aumento anual de 6,1% ante a temporada atual, calculada em 533,1 milhões de toneladas.
A expectativa envolve um quadro climático relativamente favorável, diante da probabilidade de chuvas mais frequentes. Entretanto, o Açúcar Total Recuperável (ATR) médio das lavouras deve apresentar um ligeiro recuo, na ordem de 2,6%, frente ao estimado para a temporada 2021/22, indo para 141 quilogramas por tonelada.
Apesar das adversidades climáticas enfrentadas pelo cinturão canavieiro na safra atual, o rendimento médio dos canaviais em 2022/23 tende a se elevar – ainda que a concretização dessa perspectiva esteja vinculada à recuperação da umidade entre outubro deste ano e março do ano que vem.
Segundo relatório assinado pelas analistas de inteligência de mercado da StoneX – Marina Malzoni, Rafaela Souza e Natalia Silva –, os modelos climáticos apontam para precipitações mais próximas da normalidade nos próximos meses, o que tende a corroborar alta de 5% no rendimento médio dos canaviais da região, para 72,5 toneladas por hectare no próximo ciclo.
Mesmo assim, elas ponderaram que a probabilidade de incidência de La Niña pode prejudicar a regularidade do regime de chuvas, colocando-se como ponto de atenção para o potencial produtivo das lavouras. “Nossa expectativa é de que a produtividade dos canaviais ainda se situe 2,5% abaixo da média das cinco temporadas anteriores”, avaliam as analistas.
Além da expectativa de maior rendimento dos canaviais, a área plantada com a cultura também deve ter incremento em 2022/23. Segundo a consultoria, embora a concorrência com grãos se mantenha significativa, dado avanço da rentabilidade do cultivo de soja e milho, a conjuntura para o setor sucroenergético se mostra favorável para a ampliação dos investimentos na produção. Por isso, a expectativa é que a área canavieira alcance 7,8 milhões de hectares, crescimento anual de 1%.
No mix produtivo, por sua vez, o protagonismo do açúcar permanece evidente segundo o relatório, mas o etanol deve alcançado preços recordes, o que pode levar a um maior direcionamento de cana para a destilação na próxima temporada. A StoneX projeta um mix açucareiro de 45%, levando a produção de açúcar para 34,2 milhões de toneladas (+2,1%).
Já a produção de etanol de cana é esperada em 25,8 bilhões de litros, aumento anual de 4,4%. Em paralelo, a oferta do biocombustível a partir do milho também deve continuar crescendo, considerando a ampliação da capacidade de destilação, sendo estimada em 4 bilhões de litros em 2022/23 (+12,8%).
“Fica claro, portanto, que embora abaixo do observado em safras anteriores, a fabricação dos produtos da cana deve se recuperar frente a 2021/22. Na temporada corrente, que deve ter fim antecipado em outubro, o déficit hídrico, aliado a ocorrência de geadas e incêndios, pressionou de maneira significativa a produtividade dos canaviais”, destacam as analistas de inteligência de mercado do grupo.
O relatório também destaca que parcela significativa das usinas do Centro-Sul já se encaminham para o encerramento das atividades de colheita, demarcando um fim antecipado do ciclo, estimado para meados de outubro.
Perspectivas para o Norte-Nordeste em 2021/22
A StoneX também divulgou suas primeiras estimativas para a safra 2021/22 na região Norte-Nordeste. Neste caso, foi considerado o período de setembro a agosto.
Conforme o relatório, a dinâmica da região parece ser mais positiva do que para o Centro-Sul. Ainda que a temporada esteja sendo marcada por uma menor quantidade de chuvas, os indicadores observados pela consultoria apontam para a manutenção de uma produtividade elevada na região, que deve alcançar 60,1 t/ha, alta anual de 3,7%. Com isso, a moagem de cana é projetada em 53,6 milhões de toneladas, crescimento safra-a-safra de 3%.
Em meio a um ATR médio de 130,3 kg/t e um mix açucareiro de 46,4%, a produção de açúcar pelas usinas da região deve totalizar 3,1 milhões de toneladas (+1,6%). A destilação de etanol, por sua vez, é projetada em 2,2 bilhões de litros, avanço anual de 1,9%.
“Especificamente, esperamos que a produção do anidro alcance 1,05 bilhão de litros, aumento anual de 8,7%, ao passo que a destilação de hidratado é projetada em 1,1 bilhão de litros (-3,6%)”, afirma relatório divulgado pela StoneX.
Além disso, conforme destacou Marina Malzoni no IV Seminário da StoneX, realizado na manhã de ontem, 5, outro ponto importante para o ciclo do Norte-Nordeste é a arbitragem de importação do preço do etanol importado em Suape (PE).
“As compras internacionais em outubro têm janela de importação fechada, mas ela tende a se abrir a partir de novembro de 2021, indo até maio de 2022, o que pode estimular um maior volume de importação da região”, destaca.
O balanço de oferta e demanda mais apertada no país, por conta da quebra de safra, o fim antecipado da temporada no Centro-Sul e as perspectivas de avanço da produção do biocombustível nos Estados Unidos reforçam a perspectiva de aumento das importações.
Consumo de etanol e CBios
Para o ciclo 2021/22, a StoneX estima que haja uma alta de 7,7% no consumo do ciclo Otto com a participação de mercado do etanol hidratado em torno de 25%.
Já para a temporada 2022/23, a consultoria espera uma alta de 2% neste consumo no comparativo com o estimado para a safra corrente. Ainda assim, Malzoni pontua que o volume estaria abaixo do que ocorreu em 2019/20.
“Tudo vai depender das perspectivas do crescimento econômico no Brasil já que esta é uma variável direta para entender o comportamento de consumo, tanto de etanol quando de gasolina nos postos brasileiros”, completa a analista.
No mercado de CBios, ainda que haja uma conjuntura desfavorável à oferta de etanol, espera-se um superávit de créditos em 2021. O relatório da consultoria projeta que 30,4 milhões de títulos sejam gerados, superando a meta de 24,86 milhões.
Para 2022, as expectativas da StoneX também são favoráveis, levando em conta um aumento na produção de etanol para o ciclo 2022/23.
Cenários para 2021/22
O clima adverso marcou a temporada atual, que se encaminha para o fim, com chuvas muito abaixo da média histórica, conforme destacou Marina Malzoni. Os incêndios e geadas também prejudicaram o rendimento médio dos canaviais. Por isso, a consultoria estima um rendimento médio de 69 t/ha, queda anual de 11%. Já a moagem deve fechar 533,1 milhões de toneladas (-12%) e o ATR em 144,8 kg/t (+0,1%).
Quanto ao mix de produção, Malzoni relata que os últimos meses foram marcados por um preço mais vantajoso à fabricação de açúcar, estimulando o ritmo de fixação de vendas da commodity na bolsa. Com isso, a consultoria estima que em torno de 45,5% da matéria-prima seja direcionada ao adoçante em 2020/21, com a produção atingindo as 33,5 milhões de toneladas (-13%).
Já a fabricação de etanol de cana, na estimativa da StoneX, deve ser de 24,7 bilhões de litros (-11,2%); com a soma do renovável vindo do milho, a produção deve chegar a 28,2 bilhões de litros.
Especificamente, o protagonismo da produção de anidro vindo da cana tende a perdurar, com as projeções apontando para uma destilação de 9,9 bilhões de litros pelas usinas do Centro-Sul.
Além disso, o avanço da produção de etanol de milho no ciclo corrente deve aliviar, ainda que parcialmente, o aperto nos estoques do biocombustível. “Para 2021/22 [abril a março], estimamos uma produção de 3,5 bilhões de litros de álcool a partir do cereal”, apontam as analistas.
O avanço do mix também depende, conforme Malzoni, da relação de preços entre o etanol e a gasolina nos postos do Centro-Sul. Em 2021, o renovável registrou valores recordes tanto pela quebra de safra quanto pela dinâmica cambial do petróleo no mercado externo.
Assim, a relação de preços entre o biocombustível e seu concorrente fóssil ficou bastante acima da média dos últimos três anos e superior ao nível de equivalência energética entre ambos, aumentando a atratividade da gasolina nas bombas.
“Essa tendência deve perdurar ao longo dos próximos meses, já que a safra corrente no Centro-Sul deve ter um fim antecipado”, explica Malzoni. Segundo ela, isso estimula uma menor participação de mercado do hidratado no consumo de combustíveis do ciclo Otto no Centro-Sul.
Ainda assim, Malzoni relata que a vantagem do açúcar sobre o etanol diminuiu nos últimos meses, com o preço do anidro (base Ribeirão Preto) mais em linha com o contrato nº 11 do açúcar em Nova York. Isso pode, conforme a analista, estimular que um mix de produção um pouco menos açucareiro em 2022/23.
Fonte: StoneX / Novacana