A sessão desta segunda-feira (22) promete ser movimentada e de forte queda para o Ibovespa, guiada principalmente pelo noticiário sobre a intervenção do governo nas estatais. O anúncio da troca no comando da Petrobras na noite da última sexta-feira dominou o debate no final da semana, em meio aos efeitos diretos não somente na empresa e no setor, mas também por uma possível mudança de rumos na política econômica do governo.
Soma-se a isso o recuo das principais bolsas internacionais, com os investidores ainda tendo no radar a rápida alta dos juros de títulos do Tesouro americano com vencimento em 10 anos. Confira os destaques:
1. ETF brasileiro em derrocada
O EWZ, principal ETF brasileiro negociado no mercado americano, que replica o índice MSCI Brazil, registrava queda de cerca de 5% no pré-market da Bolsa de Nova York nesta segunda-feira (22). Às 7h (horário de Brasília), a baixa era de 5,24%, em meio ao anúncio do governo de trocar o CEO da Petrobras (PETR3;PETR4) e ainda indicar intervenção no setor de energia elétrica. Os papéis da Petrobras PBR (equivalente às ações ordinárias) tinham uma derrocada de mais de 14% no mesmo horário: a derrocada era de 14,13%, a US$ 8,63.
Após a indicação do governo do general Joaquim Silva e Luna para presidência da Petrobras, em substituição a Roberto Castello Branco, a percepção de risco para as ações da Petrobras, que já estava alta por conta das críticas de Jair Bolsonaro ao reajuste de combustíveis e ao CEO da estatal, aumentou ainda mais, levando os ADRs (recibos de ações, na prática, os papéis negociados nos EUA) a caírem mais de 9% no after market na sexta após terem registrado uma queda de mais de 7% no pregão regular. O EWZ, principal ETF brasileiro negociado no mercado americano, que replica o índice MSCI Brazil, já tinha caído 3,64% no after market na sexta.
Soma-se a isso mais declarações do presidente Bolsonaro que pode impactar outras ações. Em conversa com apoiadores no sábado (20), após dizer que decidiu afastar Roberto Castello Branco porque os reajustes dos preços dos combustíveis este ano foram uma “covardia”, o presidente prometeu agir também no mercado de energia elétrica. “Vamos meter o dedo na energia elétrica, que é outro problema também”, afirmou, o que pode impactar também os papéis da Eletrobras (ELET3;ELET6).
De acordo com reportagem publicada no domingo pelo jornal Folha de S. Paulo, o presidente pressiona as equipes econômica e de energia por medidas para baixar a conta de luz. A ideia é usar R$ 70 bilhões de um fundo setorial e tributos federais para reduzir as tarifas, em um movimento atento para a disputa pela reeleição em 2022, segundo o jornal.
Assessores do Planalto afirmaram à Folha que uma das propostas para conter a alta na energia é destinar R$ 20 bilhões para a Conta de Desenvolvimento Energético, um fundo setorial financiado pelos consumidores para criar políticas públicas, como a redução de tarifas para os mais pobres. Além disso, a Aneel estuda como devolver R$ 50 bilhões pagos a mais pelos consumidores nas contas de luz.
Depois da indicação do general Silva e Luna, a XP Investimentos rebaixou de neutra para venda a recomendação das ações da Petrobras neste domingo (21). O preço-alvo foi reduzido de R$ 32 para R$ 24, tanto para ações ordinárias quanto para as preferenciais. No relatório, os analistas Gabriel Francisco e Maira Maldonado justificam que a troca de comando coloca em risco a independência da Petrobras e a política de preços de combustíveis em linha com referências internacionais de preços.
“Embora não possamos tecer conclusões preliminares se a política de preços da Petrobras mudará sob uma eventual gestão do Sr. Silva e Luna, o que importa é a mensagem que está sendo transmitida ao mercado: está se tornando cada vez mais difícil do ponto de vista político para a Petrobras implementar uma política em que os preços dos combustíveis variam de acordo com as variações dos preços do câmbio e do barril de petróleo (principalmente no caso do diesel, dadas as pressões da categoria dos caminhoneiros)”, disseram os analistas da XP. Veja mais análises clicando aqui.
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2. Bolsas mundiais
As bolsas mundiais têm quedas nesta segunda-feira (22). Na semana passada, os índices futuros americanos Nasdaq e S&P 500 interromperam uma série de duas semanas de altas, recuando 0,7% e 1,6%, respectivamente, no acumulado semanal.
Alguns investidores estão temerosos quanto à rápida alta dos juros de títulos do Tesouro americano com vencimento em 10 anos, que subiram 0,14 ponto percentual na semana passada, indo a 1,34%, o patamar mais alto desde fevereiro de 2020.
A alta dos juros dos títulos do Tesouro reflete a expectativa de recuperação da economia dos Estados Unidos após os efeitos da crise do coronavírus, com a aceleração do ritmo de vacinação e o plano do presidente Joe Biden de lançar um pacote de estímulos no valor de US$ 1,9 bilhão.
Mas essa alta pode ter o efeito colateral de aumentar os custos de endividamento de companhias de alto crescimento, que dependem de empréstimos abundantes. Pode também reduzir a atratividade, comparativamente, do investimento em papéis listados nas bolsas.
Os investidores continuam a acompanhar o noticiário em torno da vacinação pelo mundo, apontado por muitos analistas como um dos principais fatores a determinarem o ritmo da recuperação das economias.
No domingo (21), a Casa Branca afirmou que espera a distribuição de milhões de vacinas cuja entrega atrasou após uma tempestade de inverno prejudicar a logística.
No Reino Unido, o primeiro-ministro Boris Johnson deve detalhar nesta segunda como pretende encerrar as medidas de lockdown gradualmente nos próximos meses, à medida que a distribuição da vacinação mantém um ritmo forte. Espera-se que Johnson foque em dados sobre o avanço da imunização e anuncie a reabertura das escolas em 8 de março.
O índice Stoxx 600, que reúne 600 componentes que representam grandes, médias e pequenas empresas listadas em 17 bolsas europeias, caiu 1,2% mais cedo.
As ações do setor de tecnologia lideraram as quedas, recuando 2,3%. Já os setores de viagem e lazer tiveram alta de 0,6%, contrariando a tendência de baixa.
O diretor-geral da Organização Mundial de Saúde, Tedros Adhanom Ghebreyesus, deve realizar uma coletiva de imprensa nesta segunda a respeito do estado atual da pandemia.
Na segunda, as bolsas asiáticas tiveram em sua maioria baixas, após a China manter sua taxa de juros referencial inalterada no final de semana, em 3,85%, em linha com a expectativa de analistas ouvidos pela agência internacional de notícias Reuters. As bolsas chinesas lideraram as perdas na região, enquanto o índice japonês Nikkei 225 contrariou a tendência, com altas.
Além disso, o primeiro-ministro chinês das Relações Exteriores, Wang Yi, pediu na segunda que o governo americano deixe de implementar aquilo que chamou de “supressão” de empresas americanas de tecnologia, como condição para fazer avançar a cooperação entre os Estados Unidos e a China.
A gestão do ex-presidente americano, o republicano Donald Trump, estabeleceu sanções contra dezenas de empresas chinesas nos últimos três anos, sob a justificativa de defesa da segurança nacional.
A gigante de tecnologia Huawei é uma das empresas mais proeminentes a sofrerem essas sanções, o que contribuiu para que caísse da primeira posição como vendedora de celulares no mundo para o último lugar em 2020.
Wang defendeu que os Estados Unidos removam tarifas e sanções, e “abandonem a supressão irracional do progresso tecnológico da China, criando as condições necessárias para a cooperação entre China e Estados Unidos”.
3. Agenda
Às 8h25, o Banco Central divulga o Boletim Focus, com a expectativa de analistas sobre indicadores importantes, como inflação, taxa de juros, câmbio e crescimento do PIB no Brasil. Às 11h é divulgado a evolução do índice geral de empregos medida pelo Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Às 11h30, Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu, realizará um discurso.
Às 12h é divulgado o índice de atividade das empresas medido pelo Fed de Dallas, relativo a fevereiro, nos Estados Unidos. Às 17h30, Michelle Bowman, membro do FOMC (sigla em inglês para comitê federal do mercado aberto) do Fed, realiza um discurso.
Às 22h30, são divulgados dados sobre os preços de imóveis na China, relativos a janeiro.
4. Pandemia e entrave sobre imunizantes
O consórcio de veículos de imprensa que sistematiza dados sobre Covid coletados por secretarias estaduais de Saúde no Brasil divulgou, às 20h de domingo (21), o avanço da pandemia em 24 h no país. A média móvel de mortes em 7 dias foi de 1.038, marcando 32 dias com a média acima da marca de mil mortes, alta de 2% em relação ao patamar registrado 14 dias antes. Em apenas um dia houve 554 mortes.
A média móvel de casos confirmados em 7 dias foi de 47.658, alta de 4% frente ao período encerrado 14 dias antes. Em apenas um dia foram registrados 29.035 casos.
Até o momento, 5.811.528 pessoas receberam a primeira dose da vacina contra a covid no Brasil, o equivalente a 2,76% da população. A segunda dose foi aplicada em 1.172.208 pessoas, ou 0,55% da população. Analistas vêm apontando a velocidade da imunização como um dos fatores a influenciarem a retomada da economia.
No domingo, o Ministério da Saúde divulgou uma nota em que afirma que mantém interesse em comprar imunizantes produzidos pela Janssen e parceria entre as farmacêuticas Pfizer e BioNTech, mas que as propostas “vão além da sua capacidade de prosseguir negociações”.
Em audiência no Senado na semana passada, o general Eduardo Pazuello, que comanda a pasta, afirmou que as cláusulas da Pfizer seriam “impraticáveis”, e que o laboratório impôs condições “leoninas”. A farmacêutica afirmou que as condições são as mesmas dos contratos de venda para outros países do mundo, inclusive na América Latina.
Na nota divulgada no domingo, o Ministério da Saúde afirmou que espera entre esta segunda e sexta uma orientação da Casa Civil da Presidência sobre como proceder para solucionar impasses nas negociações, que foram iniciadas em abril de 2020.
No sábado, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), afirmou que deve se reunir nesta segunda com os representantes dos laboratórios Johnson & Johnson, dono da Janssen, e Pfizer, para realizar uma “ponte entre essas indústrias e o governo federal, porque há um entrave jurídico, há uma cláusula no contrato que diz que a indústria não se responsabiliza pelos efeitos negativos da vacina. E o governo não quer assumir esse risco”.
Na nota, o secretário-Executivo do ministério da Saúde, Élcio Franco, afirmou: “queremos salvar vidas e comprar todas as vacinas comprovadamente efetivas contra o coronavírus aprovadas pela Anvisa. Desde abril de 2020, começamos a conversar com a Janssen e um mês depois com a Pfizer, mas as duas empresas fazem exigências que prejudicam interesses do Brasil e cederam pouquíssimo nisso, ao contrário de outros fornecedores”.
Com o entrave nas negociações, o foco do governo federal continua sendo o imunizante desenvolvido pela parceria entre AstraZeneca e Universidade de Oxford, que ainda não começou, no entanto, a ser produzida no Brasil pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz). Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, a Fiocruz deve receber mais dois milhões de doses do imunizante enviadas pela Índia. Outras oito milhões de doses devem ser importadas em dois meses pelo governo.
Além disso, em entrevista publicada nesta segunda no portal UOL, o governador do Acre, Gladson Cameli (PP), afirmou que o estado só tem recursos para manter o sistema de saúde funcionando para tratar pacientes de Covid por até três meses. O estado vive seu pior momento na pandemia, com internações em alta e hospitais lotados.
Cameli afirma que há queda no financiamento federal de leitos de terapia intensiva, pouca remessa de vacinas, e pede ajuda do governo. O estado foi atingido por enchentes que agravaram a crise humanitária marcada pela chegada de imigrantes haitianos barrados na fronteira com o Peru.
5. Radar corporativo
Além de monitorar Petrobras, os investidores acompanham o noticiário sobre as demais estatais. A Petrobras teve a recomendação reduzida para equivalente à venda pela XP Investimentos, Credit Suisse e Bradesco BBI, enquanto o Morgan Stanley retirou a sua recomendação para os ADRs da estatal. Já o Credit Suisse reduziu a recomendação para Eletrobras e para o Banco do Brasil para neutro.
Os investidores também monitoram a repercussão do anúncio na última sexta-feira de que a Lojas Americanas (LAME4) e B2W (BTOW3) irão criar comitês especiais independentes para avaliarem uma combinação de suas operações. A decisão ocorre em um momento de forte avanço do comércio eletrônico por conta da pandemia do coronavírus. Em comunicado, as empresas disseram que o resultado da combinação dos negócios será chamada Universo Americanas. Não houve detalhes, porém, de quando o movimento deve ocorrer.
Fonte: InfoMoney