A divulgação nesta sexta-feira (1) pelo IBGE dos dados do PIB brasileiro no 4º trimestre e no ano fechado de 2023 deve trazer poucas surpresas, segundo os economistas, dado que o ano passado teve duas fases bem distintas. Foi um ano com o primeiro semestre forte, com impacto marcante da supersafra de grãos nos números da agropecuária, e um período de desaceleração, com a resiliência do consumo das famílias segurando a atividade.
A projeções são de que a atividade econômica ficou perto da estabilidade nos últimos três meses do ano passado, com estimativas entre uma queda de -0,1% e uma alta de 0,2% ante o trimestre anterior. Com isso, o PIB terá fechado o ano com expansão próxima de 3%, praticamente no mesmo nível do ano anterior.
Mais que os dados de 2023, os economistas devem se debruçar sobre os sinais e tendências que possam indicar para onde a economia vai em 2024. Hoje, as projeções são de um crescimento menor, entre 1,5% e 2,0%. Porém, mesmo as casas mais pessimistas já colocam um viés de alta para essas estimativas.
Numa coisa, todos concordam: ao contrário de 2023, o PIB de 2024 terá um desempenho mais equilibrado de dados na ótica de oferta e demanda.
Para Alex Agostini, economista chefe da Austin Rating, esse equilíbrio se dará pela esperada perda de força da agropecuária. “Refletindo os efeitos do fenômeno El Niño, que derrubou a produtividade dos grãos e o preço dessas commodities. Mas o custo de produção se manteve alto”, comenta.
Ele vê também um setor industrial com desempenho muito parecido com o de 2022 (1,6%) e o provável de 2023 (1,3%), mesmo com a nova política industrial. “Dificilmente o setor terá maior tração para alavancar expansão”, estima. Por fim, o setor de serviços, passados os fortes períodos de alta entre 2021 e 2023, deverá voltar a apresentar crescimento modesto. “Estimamos 1,7%”.
A avaliação de João Savignon, chefe de pesquisa macroeconômica da Kínitro Capital, vai na mesma linha. A projeção dele para o PIB de 2024, de expansão de 2,0%, reflete uma desaceleração gradual da economia, que seguirá com demanda doméstica resiliente e contas externas sólidas.
“As principais contribuições continuarão vindo dos Serviços, na ótica da oferta, e do Consumo das famílias (na ótica da demanda), ambas atividades beneficiadas pela manutenção do mercado de trabalho apertado, pelas transferências de renda à população, pela valorização do salário-mínimo e pela ampliação do crédito”, afirma.
Por outro lado, o PIB da agropecuária deve ter uma queda de 2,1%, como consequência das condições climáticas mais adversas e da elevada base de comparação do ano passado.
Mercado de trabalho
Claudia Moreno, economista do C6 Bank, concorda prevê que o país deve ter fechado o ano com um bom crescimento, em torno de 3%, puxado pelo resultado maior no primeiro semestre, boa parte relacionado à agropecuária, mas que teve uma contribuição do consumo das famílias e dos serviços, que ficou forte.
“A agente entende que isso está relacionado tanto a um mercado de trabalho aquecido, que aumenta a massa salarial e acaba dando mais estímulo para o consumo. E também pelo fiscal. O aumento de transferência de renda em 2023 também deve ter ajudado a impulsionar a atividade”, explica.
Ela também prevê que, após freada brusca da atividade no 2º semestre do ano passado, em 2024 as próximas divulgações deve mostrar a volta de algum crescimento. “Projetamos hoje um PIB de 1,5%, com viés de alta”, diz. Entre os motivos para o otimismo, está o alívio com a queda da Selic, que começou em agosto do ano passado.
Temperatura adequada
Marcela Rocha, economista chefe da Principal Claritas, é outra especialistas que coloca o maior equilíbrio como a principal diferença entre o PIB que será anunciado nesta sexta-feira e o esperado para 2024.
“Esperamos que, após crescer 3% no ano passado, a economia brasileira cresça 1,6% este ano, mostrando uma desaceleração. Na nossa avaliação é totalmente explicada pelo setor agropecuário. Depois de um crescimento robusto de 16% no ano passado, deve ter uma leve queda de 0,5%, muito em linha com as projeções do IBGE e da Conab estão apontando em relação à safra deste ano”, afirma.
Ela também diz esperar que a indústria, depois de crescer 1,5% no ano passado, deva se expandir 1,8% em 2024, enquanto os serviços, depois de crescer forte (2,3%), ainda vão subir cerca de 1,8%. “Ou seja, quando olhamos o PIB ex-agro, está rodando com uma temperatura robusta, de cerca de 1,6% ou 1,7%”, compara
Sobre o 4º tri do ano passado, ela disse esperar uma leve contração, com resultado de -0,1%. “A gente avalia que essa leve contração é explicada pela agropecuária. Se olhar indústria e serviços pelo lado da oferta, ainda esperamos crescimento”, diz Marcela.
Luis Otávio Leal, da G5 Partners, é outro economista que diz esperar mais equilíbrio. Porém, ele acredita que isso se dará menos pelo fato o PIB agrícola ser negativo em 2024 e mais porque o ano terá a volta do crescimento dos investimentos.
“Em 2023, ao mesmo tempo em que tínhamos o Consumo das famílias crescendo mais de 2,0%, tínhamos a FBCF (investimento) caindo mais de 2,0%, um crescimento desequilibrado, onde a demanda cresce e a oferta se contrai. O próprio BC, na ata da reunião de dezembro, chamou a atenção para o perigo desse tipo de crescimento”, comenta.
“Então, sim, achamos que o crescimento em 2024 vai ser mais equilibrado, mas porque vamos ter tanto o Consumo das famílias, quanto a FBCF crescendo mais de 2,0%.”
Leonardo Costa, economista da ASA Investments, diz acreditar que o PIB de 2024 ainda deve apresentar ritmo de crescimento forte, com expansão projetada de 2%. “Sem mais o efeito do setor agrícola, o desempenho ainda benigno deve ser pautado pelo consumo, efeito da queda de juros e do mercado de trabalho resistentemente aquecido”, sustenta.
Fonte: InfoMoney