Imagem: Petróleo e Energia
Nesta safra, companhia já seguiu nessa direção com exportações de etanol de uso industrial e trading de açúcar até o cliente final
A Raízen, joint venture entre Cosan e Shell, está centrando seu foco no portfólio de produtos e em sua estratégia de comercialização para ampliar a geração de valor e capturar os “prêmios” associados aos mercados renováveis.
Nesta safra sucroalcooleira (2020/21), a companhia já buscou essa maior geração de valor com exportações de etanol de uso industrial e com a intensificação das operações de trading de açúcar até o cliente final.
“Enxergamos valor em ampliar nossa participação na cadeia de valor de açúcar. [Na safra 2020/21] originamos mais açúcar de terceiros e nos aproximamos mais do ciente final”, disse Paula Kovarsky, diretora de ESG e relações com investidores da Cosan, ao Valor.
Das 5,3 milhões de toneladas de açúcar comercializadas pela Raízen do início da safra até o fim do terceiro trimestre, 2,2 milhões foram originados de outros produtores. Um ano atrás, essas operações eram inexpressivas.
“Temos estrutura logística e fizemos investimos em armazenagem. Temos oportunidade de fazer a desinetermediação da cadeia. Tem um movimento das tradings internacionais cada vez menos focadas em açúcar e vemos oportunidade para a Raízen capturar valor”, afirmou. Segundo a executiva, a companhia também está chegando mais próximo do cliente final. “E isso vai continuar a crescer”.
Do início da safra, em abril, até dezembro, a divisão de açúcar da Raízen registrou um lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado de R$ 1,170 bilhão, quatro vezes mais do que o resultado dessa linha de negócios no mesmo período da safra passada.
Nessa reorganização do portfólio, a companhia separou a partir deste trimestre os resultados do negócio de açúcar em uma divisão específica, enquanto abrigou em um outro guarda-chuva, batizado de “renováveis”, todas as operações de produção e venda de etanol, cogeração e trading de energia elétrica e outros produtos renováveis — como pellets, biogás e energia solar.
Nesse segmento, a oportunidade enxergada pela Raízen durante a safra foi na exportação de etanol industrial, cuja demanda está em alta tanto para a fabricação de álcool em gel como para outros fins industriais.
“Tem potencial de aumentar a capacidade e tem prêmio quando exporta”, como no caso do álcool “padrão Coreia”, ressaltou Kovarsky. “Para atender clientes asiáticos, fizemos investimentos e vendemos com prêmio”. A diversificação dos negócios também cria um “colchão” para oscilações de mercado e até para eventuais mudanças na forma da Petrobras precificar combustíveis, observou. “Se a Petrobras tiver uma precificação diferente, nosso risco vai ser muito mais baixo com posição para fora do país”, disse.
O segmento de “renováveis” registrou Ebitda ajustado de R$ 1,628 bilhão no acumulado dos três primeiros trimestres do exercício — uma redução de apenas 1%, apesar da retração das vendas tanto de etanol como de energia.
O volume de etanol próprio e de terceiros revendido durante os três trimestres desta safra caiu 9%, para 3,429 bilhões de litros. O volume de energia própria e revendida também recuou, em proporção maior (38%), mas foi parcialmente compensado pela alta de 6% no preço médio de venda.
Para a próxima safra, a Cosan previu, de forma preliminar, para o negócio de açúcar da Raízen um Ebitda entre R$ 2,1 bilhões a R$ 2,25 bilhões, enquanto para o segmento de “renováveis” a expectativa é de um Ebitda entre R$ 2,1 bilhões a R$ 2,35 bilhões.
Esses resultados devem vir de suas operações comerciais e de uma moagem de cana que deverá ficar entre 60 milhões e 64 milhões de toneladas — sem considerar a incorporação da Biosev. Na safra atual, a moagem, que foi concluída no último trimestre, alcançou 61,4 milhões de toneladas, aumento de 3%.
Biosev
A Raízen também informou que aguarda a aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e demais autoridades para iniciar a integração da Biosev. “É uma jornada excelente que estamos começando”, celebrou Luis Henrique Guimarães, CEO da Cosan, durante teleconferência.
Pelo acordo de compra da Biosev, a Raízen pagará R$ 3,6 bilhões da dívida da companhia e receberá o negócio sem passivos financeiros. Em troca, a Hédera, veículo de investimentos da Louis Dreyfus que controla a Biosev, ficará com quase 5% das ações da Raízen (sem direito a voto), usufruindo de seus dividendos.
Ele disse que a Raízen pretende se concentrar na integração dos ativos e pretende focar na segurança. “Nosso histórico de segurança é melhor que o deles, mas eles têm boas práticas agroindustriais. Estamos empolgados para trazer a mão de obra, porque eles fizeram um trabalho excelente, principalmente no campo”.
A joint venture também fará a integração da área de comercialização e alcançar mais mercados no exterior, e vê oportunidades em ampliar a cogeração das usinas da Biosev. “Eles têm uma taxa de cogeração mais baixa que em nossas usinas”, observou.
Nas projeções preliminares para a próxima safra, a Cosan previu ainda um orçamento de investimentos entre R$ 3 bilhões a R$ 3,3 bilhões, que devem superar o da safra atual diante da previsão de aportes na expansão de uma planta de cogeração que venceu recentemente um leilão de energia.
Fonte: Grupo IDEA