O preço da gasolina no Brasil deve ser ainda mais sensível ao do petróleo em 2022 do que foi em 2021, quando os combustíveis contribuíram com um terço da alta de 10,06% do IPCA, diz o Banco Central no Relatório de Inflação (RI) de março, divulgado ontem. Cálculos apresentados pela autoridade monetária indicam que grau de repasse do preço do petróleo em reais para preços ao consumidor neste ano pode ficar entre 47% e 66%, ante 40% a 54% em 2021.
Exercício simples do BC a partir de números de 2021 - dividindo a alta da gasolina pela alta de variáveis como o preço do petróleo Brent em reais, da gasolina na refinaria e da mistura de gasolina e etanol - sugere que o repasse pode ir a 73% e não ser inferior a 50%.
"Apesar de haver outros fatores que afetam o preço da gasolina (como o preço do etanol), que podem confundir a análise e dificultar a identificação do grau de repasse, a elevação do petróleo foi tão expressiva no período em questão que tende a dominar os demais efeitos. Dessa forma, a simples divisão da alta da gasolina ao consumidor pela alta do preço do petróleo em reais serve como uma aproximação razoável do grau de repasse", diz o BC.
O resultado obtido nesse exercício simplificado foi corroborado por uma análise mais detalhada do relatório, que utiliza a estrutura de custos do preço ao consumidor - gasolina na refinaria; etanol anidro no atacado; impostos federais e estaduais; margens de distribuição e revenda - para calibrar o coeficiente de repasse.
Usando pesos de dezembro de 2020, o grau de repasse é calculado em 39,8% quando o preço do etanol é considerado exógeno ao modelo (portanto, constante) e em 54,4% quando se considera resposta endógena do preço do etanol, de modo a manter constante a razão de preços com a gasolina na bomba. "É possível que o verdadeiro grau de repasse seja um valor intermediário entre os obtidos sob essas duas hipóteses", afirma o BC.
A partir dos pesos de dezembro de 2021, o grau de repasse para 2022 é calculado em 47,2% quando o preço do etanol é constante e 66,1% no segundo caso - altas de 7,4 pontos percentuais e 11,7 pontos, respectivamente, em comparação com as calibragens para o ano anterior.
"Ou seja, espera-se que o preço da gasolina em 2022 seja ainda mais sensível ao preço do petróleo. A maior sensibilidade reflete o fato de que preço da gasolina na refinaria - o componente mais sensível ao preço do petróleo - é atualmente mais importante na estrutura de custos do que era antes", explica o BC. O custo do etanol também ganhou relevância e contribui para o maior grau de repasse, diz o relatório. Já os impostos federais, que não são sensíveis ao preço do petróleo, tiveram sua participação na estrutura de custos reduzida de forma importante.
A influência do preço do petróleo em reais sobre a inflação ao consumidor será maior não só pelo repasse maior, mas também porque o peso da gasolina na cesta de consumo cresceu de 4,9% para 6,6%. "Se em 2021 um aumento de 10% do preço do petróleo em moeda local tinha impacto de 0,20 a 0,27 ponto percentual (p.p.) no IPCA, em 2022 esse impacto deve estar entre 0,31 e 0,43 p.p.", estima.
Fonte: Valor Econômico
Texto extraído do boletim SCA