A Páscoa será o primeiro grande feriado do varejo alimentar brasileiro a se repetir durante a pandemia de Covid-19. Neste ano, os ovos de chocolate estão mais caros e a estratégia de vendas de supermercados e varejistas vai focar no e-commerce.
Uma pesquisa feita pela Associação Brasileira de Supermercados (Abras) mostrou que, em média, os preços dos ovos de Páscoa em 2021 estão 11% maiores do que os praticados em 2020. O mesmo foi observado com os bombons e barras de chocolate, que subiram em média 10% de um ano para o outro.
Apesar dos valores mais amargos, o setor supermercadista acredita que as vendas de Páscoa vão crescer 15% em 2021. “Em 2020 fomos pegos de surpresa com a chegada da pandemia e do isolamento social bem próximos da Páscoa. Este ano, o setor se preparou para as vendas em período mais remoto, e conta ainda com uma força maior do e-commerce que ganhou mais clientes durante a pandemia”, afirmou em nota o vice presidente Institucional e Administrativo da Abras, Marcio Milan.
Fabio Gallo, professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (EAESP – FGV), explica que o principal fator de encarecimento dos ovos nesta Páscoa é o aumento do custo do cacau. Cerca de 70% do cacau no mundo vem de Gana e Costa do Marfim, países localizados na costa oeste da África, que disputam uma guerra de preços com empresas produtoras de chocolate.
“Ano passado, (Gana e Costa do Marfim) impuseram uma sobretaxa de US$ 400 por tonelada no preço da exportação de cacau. De forma geral, isso afeta o mercado e o preço do insumo”, explicou. “No caso dos ovos de Páscoa, tem um componente a mais. O custo do ovo também reflete a embalagem, o enfeite. São materiais de plástico, papel. Os preços disso subiram muito no Brasil, o que acaba afetando toda a cadeia produtiva”, completou.
Tem ainda o fator câmbio, que pesa sobre os insumos importados — apenas em 2020, o dólar subiu 29,4% contra o real. Neste ano, a moeda americana já avançou mais 7,5%. Segundo a última versão do Boletim Focus, do Banco Central, a expectativa de economistas é de que a taxa de câmbio termine 2021 em R$ 5,33 — hoje, está em torno de R$ 5,68.
Alta variabilidade
Além de no geral os preços dos ovos estarem mais caros na Páscoa de 2021, os consumidores podem se surpreender com a diferença de valor cobrado pelo mesmo produto em diferentes supermercados e lojas. Essa diferença pode chegar a mais da metade do valor do ovo em alguns casos.
É o que mostra uma pesquisa feita pelo Procon-SP que analisou 96 produtos vendidos online. Um ovo da marca Ferrero Rocher de 225g, por exemplo, foi encontrado sendo vendido por R$ 89,99 em um estabelecimento e por R$ 59,80 em outro, diferença de 50,48% (R$ 30,19).
Nas caixas de bombons, a maior diferença encontrada pelo Procon-SP foi de 81,51%: a caixa de Ferrero Rocher com 12 unidades custava R$ 47,50 em uma loja e, em outra, R$ 26,17 — uma diferença de R$ 21,33 em valor absoluto.
O levantamento foi realizado em nove sites, nos dias 24, 25 e 26 de fevereiro deste ano. Foram pesquisados itens como caixa de bombons, ovos de Páscoa e tabletes de chocolates. Só foram comparados os produtos encontrados em, no mínimo, três dos locais visitados.
Por essa limitação, quando medido o preço médio dos produtos avaliados pelo Procon-SP, houve um decréscimo de 2,05% nos valores cobrados por ovos em 2021, na comparação com a Páscoa de 2020. Já em relação aos bombons, houve um acréscimo de 7,38% na média de preços, e de 8,95% no caso dos tabletes de chocolate.
A orientação do diretor executivo do Procon-SP, Fernando Capez, é para que o consumidor faça a comparação entre os preços praticados por diferentes estabelecimentos. “Como estamos no momento de pandemia, o levantamento deve ser feito em lojas virtuais, considerando a relação qualidade, peso e preço do item a ser adquirido. Nas lojas virtuais, é fundamental também levar em conta o preço do frete”, disse em nota.
Ele lembrou ainda que é importante verificar com atenção o prazo de validade, a composição e o peso líquido de cada produto. Capez ressaltou também que produtos licenciados com personagens em geral têm um preço mais elevado, em face do repasse do custo do licenciamento.
Qual produto escolher?
“O consumidor precisa tomar a decisão de comprar o ovo de Páscoa ou comprar outro produto”, disse Henrique Lian, gerente executivo de políticas públicas da Proteste — associação que atua em defesa dos direitos dos consumidores. Ele chamou atenção para o fato de os preços dos bombons e tabletes de chocolate também estarem bem maiores na Páscoa de 2021. Esses produtos muitas vezes são utilizados para substituir os ovos.
“É o quadro oposto do que a gente tinha até a pandemia. (…) A variação de preços entre produtos iguais esse ano está maior na barra e nos bombons, Quem optar por essa estratégia [de substituição], pode pagar o mesmo que pagaria por um ovo de Páscoa de peso e marca equivalente se não procurar bem”, alertou.
A discrepância de preços de um mesmo produto em lojas diferentes já mudou o perfil de compra dos consumidores na Páscoa deste ano, de acordo com um estudo feito pela Associação Paulista de Supermercados (APAS). O levantamento mostrou que houve queda na demanda por ovos maiores, entre 750g e 1 kg, em prol dos ovos com menos de 170g, barras de chocolate de caixas de bombons. Isso ocorreu por um aumento médio de 7% nos preços dos ovos entre 2021 e 2020, segundo a pesquisa da associação.
Nova paisagem
Em meio ao aumento de preços dos ovos e maior esforço de vendas desse tipo de produto pela internet, os supermercados estão mudando neste ano a paisagem tradicional de Páscoa. Segundo a APAS, as “parreiras”, comuns por transformarem seções inteiras em túneis de ovos de Páscoa, foram substituídas por ilhas de produtos.
Lian, da Proteste, destacou que “os principais supermercados diminuíram em 20% e 30% a quantidade de ovos de Páscoa e estão apostando em outros itens: peixes, azeite, vinhos e o chocolate não na forma do ovo”, disse. “Então esses produtos nos quais os supermercados estão apostando mais vão ter uma variação de preço maior.”
A menor demanda por ovos de Páscoa no supermercado físico, na visão de Gallo, da FGV, é efeito da pandemia de coronavírus e, portanto, é temporária. “O caso de agora não é determinante para o futuro. A minha avaliação inicial seria dizer que daqui alguns poucos anos, quando a economia se restabelecer um pouco e se sentir mais forte, datas como essa e Dia das Mães voltarão a ter a significância e o volume de vendas [nos supermercados físicos] que tinham antes”, concluiu.
Fonte: InfoMoney