Com a lateralidade se mantendo sobre o açúcar em NY ao longo da semana, enquanto petróleo e derivados nos EUA continuaram a mostrar preços fortalecidos, o grande campeão de volatilidade foi o câmbio, mais especificamente a paridade USDBRL, e é em cima dela que devemos pautar a maior parte da nossa análise.
A segunda-feira começou agitada no Brasil, quando o ministro do STF Edson Fachin anulou as condenações do ex-presidente Lula na Lava-Jato, em um dia onde o dólar encerrou na máxima da sessão em R$ 5,87, nível não observado desde maio/2020, com a principal leitura dos investidores sendo de insegurança jurídica intensificada, em um país que já sofre com a morosidade tanto na aprovação de reformas fiscais fundamentais para equilíbrio das contas públicas, quanto na vacinação da população contra a Covid-19. Entretanto, ao longo da semana, em meio à intervenções do BC, aprovação da PEC Emergencial pelo Senado e Câmara dos deputados, e liberação cada vez mais próxima de um estímulo trilionário nos EUA, a paridade USDBRL chegou a buscar mínimas ao redor de R$ 5,53, com um range de negociação de 34 centavos ao longo de 5 dias. Podemos dizer que fomos do “céu ao inferno” (ou o contrário) nesta semana.
E as perspectivas? Bom, no fim das contas nosso país é conhecido por instabilidades de curtíssimo prazo, e não nos surpreende vez ou outra esse tipo de volatilidade. No geral o dólar deve continuar fortalecido nos próximos dias, mas com possível enfraquecimento após alta de juros na Selic esperado para a próxima reunião do Copom (que acontecerá nos dias 16 e 17/03), com a grande questão sendo o quão agressiva a autoridade monetária será. A julgar pelo discurso do Bacen de que a pressão inflacionária é temporária, não devemos ver um aumento maior que 50 pontos-base. As regiões de suporte e resistência são, respectivamente, R$ 5,45 - R$ 5,50 e R$ 5,65 - R$5,70.
Enquanto isso, o açúcar #11 em NY teve uma semana relativamente mais tranquila, apesar de algumas variações de +40 pontos aqui, -30 pontos ali, com contrato contínuo (atualmente Mai’21) encerrando essa sexta-feira cotado a 16,13 c/lb (-1,6% na semana), chegando a romper pontualmente os 16,00 c/lb nos últimos dias.
Os fundamentos não se alteraram significativamente: do lado altista ainda temos dificuldades logísticas por parte da Índia em escoar seu produto internacionalmente (conseguindo despachar de fato apenas 1,8 MMT do total de 6 MMT sujeitos ao subsídio de exportação, segundo nosso último levantamento), saldo O&D para 2020/21 ainda apertado, e expectativas de aperto nos portos brasileiros quando se iniciar a safra do Centro-Sul, devido principalmente ao atraso nas exportações de soja, com line-ups a níveis historicamente altos; já do lado baixista, estimativas de safra para o ciclo global 2021/22 trazem expectativas de maior produção não só na Tailândia, mas também Austrália, EUA, Europa, etc. Entendemos que o momento ainda é de preços altos e que não houve queda o suficiente para justificar reversão de tendência, mas dificilmente deve conseguir se manter acima dos 17,00 c/lb sem alguma mudança significativa nos fundamentos.
No mercado de combustíveis, a Petrobras trouxe na segunda-feira um reajuste de + R$ 0,2342/L na gasolina A, completando valorização de 54% desde o início do ano. Esta última alta, contudo, não foi o suficiente para manter os preços do etanol nos níveis acima de R$ 3,60/L (base Rib. Preto, com impostos) observados na semana passada, devido principalmente a: (i) demanda reprimida de Ciclo-Otto com aumento das medidas restritivas nos principais centros consumidores brasileiros e (ii) paridade nas bombas hidratado/gasolina C já acima dos 70%, inclusive em São Paulo, o que costuma desincentivar consumo do biocombustível na bomba. Com isso, compradores desapareceram e a semana encerrou com pedidas das usinas na faixa dos R$ 3,50-R$3,60 (até abaixo disso), ao passo que anidro segue com ainda menos liquidez, e pontualmente negociado a R$ 3,30 - R$ 3,35.
Considerando que algumas usinas já iniciaram as atividades, buscando aproveitar os altos preços do etanol, e outras se programando para “atrasar menos” do que inicialmente estimado, enquanto o consumo de combustíveis deve continuar retraído pelo menos até o final de março, devemos ver liquidez ainda reduzida e preços laterais ou com leve queda na próxima semana, a depender da velocidade da volta dos compradores ao mercado.
Fonte: StoneX