Embalado pela derrocada de diversos mercados nessa sexta-feira, o açúcar NY#11 Mai’21 (que passa a ser a primeira tela a partir de segunda) recuou -2,36% e fecha a semana com queda de -2,6% (44 pontos), corrigindo em parte, a forte elevação de preços da semana anterior. Nesses últimos dias, o mercado se ajustou às movimentações pré-expiração da tela de Mar’21, que lacrou nessa sexta a quarta sessão consecutiva de queda. Às vésperas da expiração, não só o recuo observado nas cotações, mas também a acelerada redução das posições em aberto na tela, sugerem que o fervor dos compradores do mercado perdeu sopro.
Nem mesmo a divulgação por parte da ISO (International Sugar Organization), elevando o déficit previsto de 3,5 para 4,8 milhões de toneladas no ciclo 20-21, freou a correção de preços que tomou conta do mercado ao longo da semana. A tela de Mar’21 foi a que mais chamou a atenção, com 162 pontos de variação entre a máxima e a mínima (18,94-17,32) – 70% acima em relação ao que se espera de variação para uma semana, de acordo com o prêmio de risco embutido nas opções no dinheiro de açúcar. O fechamento negativo (-1,46%) na última semana de negociação, após ter trabalhado com +6,49% de alta, levanta questionamentos.
Com 18.394 lotes abertos no fechamento de 25/fev (~934,4 mil tons) e considerando 3.818 lotes negociados hoje, mais os AA/EFPs, estimamos que a entrega de Mar’21 (outrora estimada entre 1-1,5 milhão de toneladas) deve se situar ao redor de 890 mil toneladas. Não fosse o forte recuo dos preços nos últimos 4 dias, poderíamos até argumentar da possibilidade de que a redução acelerada nos contratos em aberto pudesse estar relacionada com a falta de disponibilidade de açúcar no curto prazo. Contudo, o movimento do preço e o recuo dos spreads nos últimos dias de negociação do Mar’21, sugerem, por outro lado, que a demanda de bruto no curto prazo pode não estar tão vigorosa quanto se imaginava.
As indicações preliminares de entregadores e recebedores contra Mar’21 corroboram com essa segunda hipótese, especialmente pelo detalhe da indicação de entrega de 2.550 lotes (~129,5 mil toneladas) por uma gigante refinaria, situada em Dubai. Uma refinaria entregando açúcar bruto? A redução de $39/t no prêmio do branco (K/K), em fev/21 (-36%) ajuda a levantar hipóteses sobre essa pergunta. Seria uma possibilidade de que, apesar da entrega expressiva no LON#5 de Mar’21, a demanda por branco – ou seja, o consumo do elo final da cadeia do açúcar - talvez não esteja com apetite suficiente para absorver produto nos preços praticados durante as máximas de fev/21. Esse contexto nos leva a imaginar, ainda, que o avanço acelerado dos preços na semana passada, que perdurou até essa segunda-feira, teve mais influências técnicas (por exemplo, a exaustão de alguns players vendidos em segurar posições cada vez mais negativas, culminando nas ordens de fechamento – compras – à mercado), do que de fato respaldo da demanda por bruto. A velocidade das nomeações da entrega no próximo mês vai nos fornecer mais indicações para responder essa pergunta.
Por mais que os preços altos sejam condizentes com o atual cenário de aperto no balanço de oferta e demanda, provocado pela quebra da Tailândia e atrasos nos embarques de açúcar da Índia, a reviravolta que tivemos na última semana de fev/21 sugere que as cotações podem ter avançado para além do que faria sentido, considerando os fundamentos mais amplos (ao longo dos próximos meses), o que nos leva a questionar: passado os gargalos pontuais do 1T21, o que sustentaria preços tão altos? É fato de que é necessário aumento da oferta nos próximos meses, em que a produção do CS-BR terá um papel determinante, mas isso se confirmando, um ajuste da bolsa em torno dos fundamentos de médio-longo prazo parece iminente.
Por fim, quais são os ventos contrários e favoráveis a esse ajuste? Contando a favor, temos (i) o cenário macroeconômico, com a valorização do Dollar Index durante a semana - que em dois dias se recuperou das mínimas e subiu +1,33% - e a própria desvalorização do BRL, que foram ambos guiados pelo tom de aversão ao risco global após a primeira operação militar do governo Biden (hoje) e o suporte dos juros futuros nos EUA (dadas as pressões inflacionárias que a gigante injeção de liquidez desde o início da pandemia tende a provocar); e (ii) o aumento de oferta esperado com a entrada da safra nova do CS-BR, ainda que com produção menor do que na safra atual. Do outro lado, os ventos de proa que se apresentam nesse momento podem ser resumidos (i) pela força da demanda por etanol no Brasil; (ii) pelos riscos de gargalo logístico no escoamento da safra 21-22 no CS-BR, dado o atraso nas exportações de soja, (iii) pela necessidade, ainda presente, de maiores volumes de precipitação em mar/21 no CS-BR para remediar a seca prolongada de 2020.
Fonte: StoneX