Em janeiro, os futuros do demerara iniciaram o mês em franca ascensão, com o contrato contínuo atingindo a máxima de 16,75 c/lb no dia 14/01, maior patamar desde abril de 2017. A partir de então, as cotações do NY#11 passaram por um movimento de correção, com o SBH1 encerrando o mês em movimento mais lateralizado, cotado a 15,83 c/lb (+2,19%).
Em linha com este movimento mais construtivo das cotações, especuladores ampliaram a sua posição líquida comprada em quase 10 mil contratos ao longo do mês para 219.809 no dia 26/01, enquanto os fundos comerciais ampliaram o saldo vendido em 4,5 mil contratos para 485.545.
Fundamentos oferecem suporte a cotações, mas há sinais de alerta
No mês de janeiro, tanto os fundamentos do mercado de açúcar, quanto o cenário macroeconômico mais altista, se sobressaíram com relação aos fatores baixistas, o que levou o contrato contínuo do NY#11 a se segurar em níveis ao redor de 16 c/lb. No campo macroeconômico, a confirmação de uma blue wave nos EUA, com a conquista de maioria democrata tanto na Câmara dos Representantes quanto no Senado, levou o mercado a precificar uma injeção de liquidez nos mercados por meio da política fiscal ainda maior do que antes, que somada à manutenção de juros em patamares mais baixos, tende a favorecer as commodities em geral. Além disso, o mercado começa a precificar uma recuperação da economia global, o que também favorece os ativos cíclicos, levando o açúcar a subir no embalo de outras commodities, como o petróleo e seus derivados.
Além da questão macro, ressaltamos que os fundamentos do adoçante seguem garantindo suporte no curto-prazo. Apesar da produção indiana ter oferecido certa resistência aos futuros de NY, com produção acumulada de 14,27 MMT até o dia 15/01 (+31% comparado à última safra) e uma contratação ao redor de 2,5 MMT nas exportações, outros players relevantes continuam sob quebra de produção, tais como a Tailândia, cuja produção de açúcar totalizou apenas 2,95 MMT até o final do mês. Além disso, dados extraoficiais indicam exportação de apenas 142.000 mt em janeiro - que seria o menor valor na década. Por fim, destacamos também a Europa, que teve sua estimativa de produção reduzida de 16,7 MMT para 16,3 MMT (valor branco) em nossa última revisão.
Além disso, a demanda também pressiona o tradeflow da commodity, tendo em vista que a Ásia vem demandando um volume bastante elevado de açúcar. O Paquistão, por exemplo, aprovou uma licença de importação de 500 mil t de açúcar refinado e de 350 mil t de bruto no 1º semestre, enquanto as exportações da China nos primeiros 3 meses da safra superaram em 153% a temporada passada ao atingir 2,5 MMT (apesar de um arrefecimento de suas importações ser esperado nos próximos meses, o valor total deve superar a safra 2019/20). Espera-se, ainda, que a Indonésia importe cerca de 650 mil t somente até março para suprir o seu crescente consumo. Por tudo isso, estimamos um déficit global de 3,3 MMT de açúcar na temporada 2020/21 (out-set) – expectativa que é refletida na inversão do mercado e na manutenção das cotações em patamares elevados.
Entretanto, vale destacar alguns pontos que ligaram o sinal de alerta do mercado recentemente. Primeiro, o Centro-Sul brasileiro tem recebido uma quantidade de chuva bastante significativa nos últimos meses, que, se ainda não é capaz de recuperar todo o déficit hídrico do período recente (o volume de chuvas acumulado desde outubro/20 é 16,8% inferior à normalidade), ao menos pode diminuir os seus efeitos sobre a qualidade da cana, já que, por exemplo, registrou-se 216 mm de chuvas em janeiro (62% superior ao ano passado). Caso essa tendência continue, a região pode apresentar uma produção ainda maior do que nossas últimas projeções na safra 21/22 (abr-mar) – moagem de 590,4 MMT e produção de 35,5 MMT de açúcar – e contribuir para um menor aperto do tradeflow da commodity. Do outro lado da moeda, o tradeflow ainda pode ser pressionado pela Índia, dadas as recentes dificuldades logísticas enfrentadas pelo país para a exportação de açúcar branco, por conta da falta de contêineres no país (somente 70 mil t de açúcar branco foram exportados em janeiro, contra 370 mil t no ano passado).
Cenário para os próximos meses
No curto-prazo, a tendência é de manutenção das cotações do NY#11 ao redor do patamar de 16 c/lb, com possibilidade de correções pontuais, dado o largo intervalo do canal de alta em que se encontra o açúcar desde o início de 2020. De um ponto de vista técnico, o patamar de 16,30 c/lb se mostra uma resistência importante do mercado, enquanto que suportes são vistos perto de 15,70 e 15,40 c/lb. Vale ressaltar que em fevereiro teremos a expiração dos contratos de Março/21 tanto do açúcar branco em Londres quanto do demerara em NY. Tais eventos devem direcionar as cotações do adoçante.
Neste sentido, a demanda por açúcar branco tem se mostrado bastante elevada, uma vez que as cotações do contrato Março/21 na ICE/Londres encerraram o mês em US$ 456,10/t (+8,4%) e permanecem em alta, o que levou o prêmio do branco a se aproximar novamente dos US$ 110/t. Tal dinâmica pode ser explicada pelas quebras de produção na Tailândia e Europa citadas anteriormente e demanda em alta em outros países, devendo incentivar a demanda por açúcar bruto para refino.
No mais, o cenário macro deve permanecer sustentando os mercados, à medida que o ritmo de vacinação se acelera e bancos centrais continuam com uma política mais dovish (favorável a estímulos monetários) e pacotes fiscais trilionários são aprovados mundo afora. Entretanto, vale se atentar aos desdobramentos dos fatos no CS e na Índia. Enquanto um maior volume de chuvas no Brasil deve oferecer alguma resistência ao mercado, é preciso se atentar aos próximos acompanhamentos de safra na Índia e aos seus problemas logísticos, que podem levar a uma menor disponibilidade real da commodity. Além disso, recentemente foi aprovada uma resolução que antecipa a meta de 20% de mistura de etanol na gasolina na Índia de 2030 para 2025, o que tende a reduzir a oferta do adoçante no mercado global a partir dos próximos anos.
Mercado Físico Brasileiro
No mercado físico brasileiro, o indicador CEPEA/ESALQ encerrou o mês cotado a R$ 108,60/sc (+0,9% M/M). Os preços no mercado doméstico permanecem em alta, dada a moeda brasileira ainda bastante desvalorizada em relação ao dólar e uma demanda bem aquecida no exterior, que mantêm o preço do açúcar em reais acima de R$ 1.900/t no mercado internacional. Além disso, prêmios de exportação no porto de Santos permanecem em terreno positivo.
No campo dos fundamentos, o período de entressafra no CS se dá como outro fator de suporte aos preços internos. Mas a vitória dos dois candidatos apoiados pelo presidente Jair Bolsonaro para as presidências da Câmara dos Deputados e Senado, ao afastar a possibilidade de impeachment e possibilitar o andamento facilitado da agenda de reformas, pode levar ao fortalecimento do real e consequente desincentivo às exportações. Entretanto, ainda é cedo para afirmar se este cenário se confirmará, já que as eleições contaram com apoio de opositores e envolveu conchavos políticos, o que pode manter o câmbio sobre pressão do lado fiscal.
Fonte: StoneX