Apesar dos custos de produção elevados, sobretudo em meio aos entraves no mercado de fertilizantes, a boa atratividade da produção deve estimular maiores investimentos nas lavouras de cana-de-açúcar do Centro-Sul na temporada 2022/23 (abril a março), com indicativos de que a taxa de reforma dos canaviais se mantenha dentro do planejado pelas usinas. As previsões são da consultoria StoneX e foram divulgadas hoje, 30.
Segundo a consultoria, em sua primeira revisão para o ciclo, a área destinada à cana deve ter expansão anual de 1,4%, para 7,8 milhões de hectares, e a moagem deve totalizar 565,3 milhões de toneladas, alta anual de 6,5%.
“Avaliando o acumulado de outubro a 26 de novembro, as chuvas incidentes sobre as áreas canavieiras da região parecem contribuir com o desenvolvimento dos canaviais que serão colhidos a partir de 2022, ainda que de modo preliminar”, indicam as analistas de inteligência do grupo, Marina Malzoni e Rafaela Souza.
Citados pela consultoria, os modelos de longo prazo do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) sinalizam chuvas próximas da normalidade para o período entre dezembro deste ano e fevereiro de 2022 – sendo que a umidade deve superar as normais climatológicas em boa parte das lavouras de São Paulo, principal polo produtor de cana-de-açúcar. Apesar disso, as atenções ainda se direcionam às previsões de ocorrência de La Niña, fenômeno que historicamente provoca irregularidade de chuvas no Centro-Sul brasileiro.
Dados da Columbia Climate School (CPC), também mencionados pela StoneX, apontam que a intensidade do resfriamento das águas do Oceano Pacífico pode ficar próxima do nível moderado até o início de 2022, ao passo que a sua probabilidade de ocorrência se mostra mais firme, com o La Niña projetado para perdurar até fevereiro de 2022. “Diante destas incertezas e da baixa assertividade dos modelos climáticos de longo prazo, o regime de chuvas sobre o Centro-Sul continuará sendo variável chave para determinar a produtividade das lavouras em 2022/23”, ponderam as analistas da StoneX.
Na última semana, ainda de acordo com as analistas, a umidade dos solos se comportou acima da normalidade no Sul de Goiás e no Triângulo Mineiro, o que evidenciaria o ambiente favorável a ganhos de rendimento. No entanto, a manutenção das chuvas até março de 2022 seria importante para a reposição hídrica das áreas canavieiras de São Paulo, já que a umidade dos solos permanece se situando abaixo da média histórica, conforme apresenta a StoneX.
Portanto, de maneira preliminar, a consultoria espera que o rendimento médio das lavouras apresente recuperação anual de 5% na próxima temporada, para 72,5 toneladas por hectare – patamar inalterado em relação ao divulgado na previsão de outubro de 2021.
Por outro lado, a maior umidade esperada para 2022 poderá pesar sobre a concentração de açúcares nos colmos dos canaviais da região. Por isso, a StoneX acredita que a concentração de Açúcar Total Recuperável (ATR) das lavouras deve atingir 140,7 quilogramas por tonelada, em uma revisão negativa de 0,2%, que representa um recuo safra-a-safra de 1,7 kg/t.
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Quanto ao mix produtivo, as perspectivas para os próximos meses irão depender, principalmente, da evolução do consumo de combustíveis do ciclo Otto. Para 2022/23, a consultoria projeta um crescimento safra-a-safra de 2% na demanda do Centro-Sul, alcançando 40,5 bilhões de litros, já considerando as incertezas em torno da recuperação da economia nacional.
Desde o final de outubro, o PVU (valor sem frete, a retirar na unidade de produção) do hidratado, com base em Ribeirão Preto (SP), chegou a operar com prêmio em relação ao contrato contínuo do açúcar em Nova York, mas voltou a apresentar remuneração menos atrativa em meio à desvalorização do biocombustível no mercado doméstico. No entanto, o ambiente favorável ao consumo de anidro favorece a ampliação do seu prêmio sobre o adoçante.
“Embora as perspectivas sejam de déficit global de açúcar no ciclo 2021/22 (outubro a setembro), a recuperação do consumo de etanol pode estimular um maior direcionamento de cana a sua destilação no Centro-Sul”, considerou a StoneX, em relatório. Até o momento, cerca de 61,9% das exportações de açúcar pelo Brasil já se encontram fixadas em Nova York – tendência que perdeu força nos últimos meses, em meio à conjuntura positiva para o mercado do biocombustível.
A consultoria manteve inalterada a expectativa para o mix açucareiro, em 45%, perspectiva que ainda dependerá do comportamento dos preços do açúcar e do etanol nos próximos meses.
Já a produção de açúcar é estimada em 34,1 milhões de toneladas, aumento anual de 5,2%, enquanto a oferta de etanol de cana tende a ser de 25,7 bilhões de litros (+6,3%). Especificamente, devem ser produzidos pelas usinas da região 16,7 bilhões de litros de hidratado (+15,4%) e 9,1 bilhões de litros de anidro (-8,9%).
A oferta do biocombustível também deve ser favorecida pela maior produção de etanol de milho, respondendo aos investimentos para a ampliação da capacidade produtiva. Para além disso, a StoneX observa que a margem da operação alcança patamares elevados – o que deve estimular, ainda mais, o crescimento do setor. Por isso, a consultoria espera que a oferta do etanol a partir do cereal alcance 4 bilhões de litros em 2022/23, alta anual de 12,8%. Deste volume, 2,8 bilhões serão de litros de hidratado e 1,2 bilhão de litros serão de anidro.
Fonte: StoneX