Taxa zero do etanol importado deve ter pouco impacto, mas indústria do Brasil protesta

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Taxa zero do etanol importado deve ter pouco impacto, mas indústria do Brasil protesta

23/03/2022

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A isenção de tarifa de importação anunciada pelo governo brasileiro para etanol, açúcar e óleo de soja é avaliada neste primeiro momento como inócua para negócios e teria motivações mais políticas, com o Brasil buscando alternativas para uma alta nos preços das commodities e efeitos da guerra na Ucrânia, segundo analistas.

 

Mas associações de indústrias locais atingidas pela medida, inclusive a do café torrado e moído, protestaram contra o movimento do governo. Representantes do setor de óleo de soja destacaram que os preços das commodities são globais, e que a produção brasileira vai crescer este ano com aumento do processamento, apesar da quebra de safra.

 

No caso do etanol importado, o cálculo da arbitragem, mesmo com tarifa zero, indica que o produto importado ainda chegaria 8% a 10% acima do preço doméstico. E a entrada da safra de cana do Centro-Sul em abril tende a pressionar as cotações no país, limitando ainda mais qualquer janela para compras externas.

 

“Estamos às vésperas do início da nova safra, em que o preço vai cair. A nossa estimativa é que a arbitragem fique fechada mesmo com tarifa zero”, afirmou à Reuters o presidente da Datagro, Plinio Nastari, acrescentando que o etanol já é mais competitivo que a gasolina nos principais estados produtores do Brasil.

 

No anúncio da isenção da tarifa, o secretário de comércio exterior do Ministério da Economia, Lucas Ferraz, disse que estimativas apontam que a redução de 18% a zero da tarifa do etanol poderia reduzir em R$ 0,20 o preço do litro da gasolina na bomba.

 

Mas Nastari apontou ainda outras dificuldades para efetivação de negócios, como fatores sazonais nos Estados Unidos, o país que teria etanol para exportar ao Brasil. “Tem o início da demanda de verão nos Estados Unidos: aumenta o consumo de gasolina e os preços [do etanol] sobem com o aumento da gasolina. Assim, além do efeito da guerra da Ucrânia [nos preços de combustíveis], tem um fator sazonal”, acrescentou Nastari.

 

O analista Júlio Maria Borges, da Job, concorda. Segundo ele, o etanol dos EUA “está caro”. “O imposto zerado não deve ter efeito no curto prazo”, disse ele, ressaltando que a janela de importação está fechada.

 

Para Nastari, da Datagro, a tendência é que a competitividade do etanol brasileiro frente à gasolina aumente nas próximas semanas, com queda do preço ao produtor, com a chegada da safra. “Aí, a gente tem que contar que essa queda seja transmitida ao consumidores”, afirmou.

 

Sobre impacto da isenção de tarifa para importação de açúcar, o analista disse que a medida também não deve ter efeitos práticos, uma vez que o Brasil, maior exportador global, é o país com menor custo do mundo.

 

O Fórum Nacional Sucroenergético, que representa a agroindústria produtora de etanol e açúcar em 15 estados, disse que sua defesa do livre mercado é “constante”, mas se mostra contrário à isenção da tarifa do etanol “sem que haja a devida contrapartida para nossas exportações de açúcar, cuja importação é fortemente taxada pelos americanos”.

 

Segundo o Fórum, a entrada de produto estrangeiro poderia afetar o planejamento das unidades de produção no início da safra.

 

Fonte: Reuters

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