A postura beligerante do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, ajuda a manter elevada a tensão dos investidores nesta quarta-feira (8). Em sua última crítica, Lula afirmou que Campos Neto deve explicações ao Congresso, que aprovou a sua indicação na época do governo de Jair Bolsonaro (PL).
Agora, deputados governistas e alguns senadores anunciaram que vão convidar o presidente do Banco Central para dar explicações sobre a política de juros da instituição. Atualmente, a Selic está em 13,75% – valor que foi mantido pela quarta vez na reunião da última quarta-feira (1).
Apesar dos ataques, reportagem do jornal O Estado de S.Paulo afirma que Lula tem sido aconselhado por ministros do governo a baixar a temperatura no confronto após a ata do Comitê de Política Monetária (Copom) ter ensaiado uma trégua na relação entre ambos.
O mercado está preocupado com as críticas de Lula sobre o atual sistema de metas e sobre o patamar de juros. Tudo isso tem ajudado a deteriorar as perspectivas de inflação nas últimas semanas. Amanhã (9), será conhecido o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de janeiro, o que pode ajudar a recalibrar as expectativas para este ano.
Em dia de agenda esvaziada em termos de indicadores externos, investidores estarão atentos a mais falas de autoridades do Federal Reserve (Fed, banco central americano). Na véspera (7), o discurso de Jerome Powell, presidente do Fed, foi lido como dovish (menos inclinado ao aperto monetário) por não ter incorporado mudanças significativas após uma divulgação mais forte do payroll (relatório de emprego) na semana passada.
No Tesouro Direto, o mercado de títulos públicos opera com movimento misto nas taxas nesta manhã. Papéis prefixados apresentam leve alta nos juros, enquanto a maior parte dos títulos atrelados à inflação registra estabilidade nos retornos.
Na primeira atualização do dia, o maior juro era oferecido pelo Tesouro Prefixado 2029, no valor de 13,42% ao ano, acima dos 13,36% vistos na sessão anterior.
Já o maior retorno real era entregue pelo Tesouro IPCA+2045, no valor de 6,43% ao ano, em linha com os 6,44% registrados um dia antes.
Lula e reforma tributária
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a criticar ontem (7), o atual patamar da taxa Selic, reclamar da política monetária conduzida pelo Banco Central e dizer que o presidente da instituição “deve explicações ao Congresso”.
Na avaliação do presidente, Campos Neto hoje tem “mais responsabilidade” do que tinha Henrique Meirelles quando comandou a autoridade monetária nos dois primeiros mandatos de Lula à frente do Palácio do Planalto.
“Naquele tempo que o Meirelles era do Banco Central, era fácil jogar a culpa no presidente da República. Agora não. Agora a culpa é do Banco Central, porque o presidente não pode trocar o Banco Central. É o Senado que pode mexer ou não”, afirmou.
Após o tom amistoso da ata do Copom, o jornal O Estado de S. Paulo mostra que Lula está sendo aconselhado por ministros do governo a baixar a temperatura no confronto contra o presidente do Banco Central.
Os interlocutores alertaram Lula que o confronto só contribui para aumentar o prêmio de risco pedido por quem compra papéis do Tesouro Nacional e financia o governo, impactando a curva de juros (situação que ocorre quando o mercado precifica uma alta de juros nos contratos futuros) e pressionando o câmbio.
Para um interlocutor do presidente que preferiu não ser identificado, o caminho é diminuir a tensão para evitar que os dois lados – Lula e BC – fiquem sem saída mais adiante. Mas reconheceu que o presidente pode não ouvir os conselhos se houver uma escalada do conflito.
Já nesta quarta-feira, Lula receberá líderes de partidos governistas para tratar da reforma tributária, segundo o ministro Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, deverá participar do encontro e defender uma reforma em prol da simplificação de impostos. O encontro está marcado para as 9h30.
Padilha participou de reunião com senadores e o ministro Haddad e disse que o grupo debateu a necessidade de aprovação de uma reforma tributária e da Medida Provisória (MP) que restabelece o voto de qualidade no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf).
O ministro afirmou que o governo irá aproveitar as propostas já feitas pelo Congresso Nacional sobre a reforma tributária. “Haddad Reforçou a disposição de dialogar tanto com as duas propostas na Câmara e no Senado para aprovar o mais rápido possível”, declarou aos jornalistas após a reunião. Atualmente, o Congresso contempla a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) nº 110/2019, do Senado Federal, e a de nº 45/2019, da Câmara dos Deputados.
Fonte: InfoMoney