As críticas feitas pelo governo ao nível de juros no Brasil e à Petrobras voltaram a gerar insegurança entre investidores nesta sexta-feira (3). Ontem (2), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que a petroleira deveria ter investido os dividendos no crescimento econômico do país. A companhia obteve lucro recorde e dobrou o pagamento de proventos aos acionistas.
O novo presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, endossou o coro e defendeu a “flexibilização” da distribuição de dividendos.
Investidores também esperam mais detalhes sobre o novo arcabouço fiscal, que pode ser apresentado já na próxima semana. Segundo o jornal Valor Econômico, o texto deve prever que as receitas fiscais sejam corrigidas pelo Produto Interno Bruto (PIB) integral, enquanto as despesas aumentariam conforme o PIB per capita.
Novas declarações de dirigentes do Federal Reserve (Fed, banco central americano) prometem balançar o mercado nesta sexta-feira. Após uma sessão de alta na véspera, os rendimentos dos títulos do Tesouro americano (Treasuries) voltam a recuar hoje. A maior queda é registrada na taxa do papel com vencimento em 30 anos, que passava de 4,021% para 3,950%, por volta das 10h.
No Tesouro Direto, os juros oferecidos por títulos públicos registram alta nesta manhã. Na primeira atualização do dia, papéis atrelados à inflação voltavam a oferecer retornos recorde. É o caso do Tesouro IPCA+2045, que entregava uma taxa real de 6,58%, acima dos 6,55% da sessão anterior. Tal percentual é o maior já oferecido por esse papel que começou a ser negociado em 2017.
Entre os papéis prefixados, a maior remuneração era entregue pelo Tesouro Prefixado 2029, no valor de 13,68%, acima dos 13,64% de ontem.
Novas críticas ao nível da Selic
Ontem (2), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez novas críticas ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e o atual patamar da taxa básica de juros (a Selic), mantida a 13,75% ao ano.
Em entrevista à rede BandNews, o chefe do Executivo retomou a tese de que o país não tem inflação de demanda que justifique o afrouxamento e fez novas referências a Campos Neto.
“Qual é a explicação de você ter juros de 13,75% em um país em que a economia não está crescendo?”, questionou. “Saiu o PIB do último trimestre negativo. Ou seja, a economia brasileira não cresceu no ano passado. Apesar da fanfarrice do [Paulo] Guedes, não cresceu. Você tem uma economia que não está crescendo, um desemprego e empregos informais em que o trabalhador está ganhando pessimamente mal, porque a massa salarial caiu muito. O crédito está escasseando, logo logo nós poderemos ter uma crise de crédito, e eu queria uma explicação apenas de por que os juros estão a 13,75%”.
Ao se referir a Campos Neto, ele disse que é um “cidadão, que não foi eleito para nada” e que “acha que tem o poder de decidir as coisas” e ajudar o País. “Não, você não tem que pensar como ajudar o Brasil, tem que pensar como reduzir a taxa de juros”, comentou. “Ele tem que estar preocupado com inflação, emprego e crescimento da economia”, pontuou o presidente. Apesar dos ataques, Lula disse que não tem interesse em brigar com o presidente do Banco Central.
Discursos do Fed
Um dos destaques da agenda externa está nos novos discursos de dirigentes da autoridade monetária americana. Na véspera (2), o presidente do Fed de Atlanta, Raphael Bostic, disse que o banco central americano pode manter o aumento da taxa de juros em 0,25 ponto percentual, em vez de elevar o juro em 0,5 ponto, conforme defendem algumas autoridades.
Bostic disse ser a favor de um curso de ação “lento e constante” para o Fed, já que o efeito das taxas de juros mais altas só deve ser sentido com maior força na primavera americana.
Também na véspera (2), o governador do Fed, Christopher J. Waller, adotou um tom mais duro em seus comentários, levantando a possibilidade de uma taxa terminal mais alta se os números de inflação não esfriarem.
Os investidores ouvirão mais comentários de dirigentes do Fed nesta sexta, incluindo os da governadora do Fed, Michelle Bowman, e o do presidente do Fed de Richmond, Thomas Barkin.
Fonte: InfoMoney